O dia-a-dia da rotina de um biomédico (em análises clínicas)

Por Brunno Câmara - segunda-feira, janeiro 06, 2014

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

Por Murilo Camano

São 6h50. O despertador do celular toca, pressiono “soneca” e ganho mais 10 minutos na cama. Quando o alarme toca novamente já são 7h e não há escolha, tenho que levantar. Por sorte do destino, ou qualquer outro tipo de sorte, moro em uma cidade do interior e muito perto de meu trabalho. Não preciso acordar duas horas antes do início de meu expediente, pois da minha casa até o laboratório, levo menos de 10 minutos fazendo o trajeto inteiramente a pé.

Esqueci de me apresentar: meu nome é Murilo, tenho 25 anos, sou biomédico desde dezembro de 2010. Sou graduado pela Uniararas (Fundação Hermínio Hometto), tenho habilitações em microbiologia de água e alimentos, e como a maioria dos biomédicos, também sou habilitado em análises clínicas.

Meu horário de trabalho é das 7h30 às 12h e das 14h as 17h30. A “correria” em um laboratório de análises clínicas se dá pela manhã: o período de coleta é considerado o horário crítico, pelo menos pra mim, pois dura aproximadamente 1h30 minutos. Por ser um laboratório de cidade de interior o movimento é pequeno, girando em torno de 25-40 pacientes/dia.

Hoje foi um dia corrido. Tivemos 32 pacientes, porém, nenhuma anormalidade após a coleta e preparações dos materiais para posterior análise. Todo o sangue que será utilizado na bioquímica é coletado em um tubo específico que é colocado no banho-maria para retração do sangue e obtenção do soro. Já o sangue que vai ser utilizado para realização do hemograma é coletado em outro tubo com anticoagulante e vai diretamente para o homogeneizador para evitar hemólise.

O primeiro material a ser preparado e analisado é a urina. O exame de urina tipo I deve ser realizado em até 2 horas, pois há bactérias presentes na urina que podem metabolizar glicose ou cetonas alterando a composição podendo culminar em um resultado errôneo.

O preparo da urina é simples: passa-se a tira de análises, interpretam-se os resultados, e realiza-se a centrifugação. Em seguida, despreza-se quase toda urina e o que sobrar é encaminhado à análise microscópica.

Tendo feita a preparação da urina é hora de dar atenção aos tubos de sangue coletados para realizar o hemograma. No laboratório onde trabalho, utilizamos o aparelho Coulter T890 que é um bom aparelho, porém, um pouco defasado. Após “passarmos” o sangue no aparelho é necessário que se core as lâminas para a parte final do hemograma ser realizada a nível microscópico.

Após todo o trabalho citado as atenções são voltadas aos tubos que contêm o sangue que será utilizado para as análises bioquímicas. Os tubos estão em banho-maria para retraírem, e após retração obtém-se o soro. O soro é separado do coágulo e vai para a centrífuga para obtenção do soro “limpo” que será utilizado nos exames.

Posteriormente é necessário separar os pacientes que têm exames que são feitos no aparelho de bioquímica, dos exames de hormônios, que na maioria dos laboratórios, são enviados para laboratório de apoio, dos demais exames que são feitos através de testes rápidos, como HIV, VDRL e hepatites.

Como citado anteriormente, tivemos 32 pacientes e os exames do dia foram: Glicose, colesterol total, colesterol HDL, colesterol LDL, colesterol VLDL, triglicérides, ácido úrico, TGO, TGP, cálcio, creatinina, gama GT, Sódio, Potássio, HIV, VDRL, Sistema ABO (tipagem sanguínea), Betatest (Gravidez), PSA, TSH, T3 e T4.

Ainda no período da manhã realizo os exames normais sempre presentes em rotinas simples como HIV, VDRL e Betatest. Os exames de HIV e VDRL tem seus resultados como negativos, porém o Betatest diz que a mulher foi contemplada e um bebê está a caminho. Separo o soro dos exames hormonais (PSA, TSH, T3 e T4) para envio ao laboratório de apoio e, para finalizar o período da manhã, faço a contagem de todos os exames que irão ao aparelho de bioquímica para saber a quantidade de reagente a ser utilizada. Olho no relógio, já são 12h, e vou almoçar.

Quando retorno do almoço já sei a quantidade necessária de reagente a ser utilizada, porém antes de começar as análises, é preciso passar um controle no aparelho. Os resultados batem com os valores de referência, programo o aparelho para a rotina do dia; temos um cobas mira, operando com reagentes labtest, rapidez e certeza de bons resultados. Para dar conta de toda a rotina o aparelho vai levar aproximadamente 90 minutos.

O exame de tipagem ficou pra trás. Pego o tubo de sangue do paciente (o mesmo que se utiliza para fazer hemograma), coloco no homogeneizador, e realizo a metodologia. Para minha alegria (e de todos os biomédicos que realizam esse tipo de exame) o resultado é o sangue do tipo A e o fator positivo. Em caso de fator negativo é necessário realizar mais passos do exame para confirmação do fator.

Enquanto isso o Cobas segue a todo vapor realizando suas análises bioquímicas. Hoje com a rotina pequena, o número de repetições para confirmação de resultados também foi pequeno.

Além de exercer a função de biomédico, sou também coordenador da qualidade e gerente laboratorial. Faço as anotações de controle para o PNCQ (Programa Nacional de Controle de Qualidade) e do sistema interno de qualidade ISO 9001, um trabalho burocrático e nada animador.

Quando termina a rotina, o Cobas apita. Confirmo os resultados, retiro suas bandejas, dou o ”start” no aparelho para ele se auto-lavar e se desproteinizar, lavo suas bandejas com água deionizada, o que significa que, é uma água sem íons, sem cloro e com grau elevado de pureza para não “contaminar” o aparelho e suas peças removíveis.

Ao término disso tudo, conduzo os rascunhos dos exames à área de digitação e posterior conferência e liberação dos resultados aos pacientes. O relógio marca 17h30 e sou envolvido por uma sensação de dever cumprido. Tenho absoluta certeza que fiz o melhor que pude para meus pacientes do dia, e é hora de tirar o jaleco, ir embora e ter uma vida normal, pelo menos por algumas horas, por que amanhã tem mais.

Murilo Camano MurrTexto de Murilo Camano, biomédico, de São Paulo, habilitado em análises clínicas e microbiologia de água e alimentos.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao |