O mistério dos pacientes HIV positivos controladores de elite

Por Brunno Câmara - quarta-feira, março 15, 2017

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Controladores de Elite

Mais de duas décadas após a descoberta do agente etiológico da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), a epidemia global continua a se expandir, e mais de 60 milhões de pessoas foram infectadas em todo o mundo.

Apesar da heterogeneidade das estirpes do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), o curso clínico da doença é geralmente previsível: um início sintomático semelhante à mononucleose infecciosa, com febre, faringite, linfadenopatia e mal-estar, seguido de um período assintomático de aproximadamente 8-10 anos, em pessoas não tratadas. Esses indivíduos desenvolvem imunodeficiência intensa e morrem de complicações relacionadas à AIDS.

Notavelmente, existe uma pequena fração dos indivíduos infectados não tratados que apresentam um estado de aparente controle da replicação do HIV. Eles são positivos pelos métodos de diagnósticos sorológicos mas não possuem o vírus detectável no plasma pelos testes padrões (por exemplo, a carga viral é menor que 50-75 cópias de RNA/mL).

Esses pacientes são chamados de Controladores de Elite, correspondendo a menos de 1% da população infectada. Alguns têm documentado infecção não tratada por mais de 25 anos, fornecendo evidência de que o controle do HIV na ausência de terapia é possível.

A grande maioria dos indivíduos infectados pelo HIV não tratados exibem evidência de replicação viral e depleção progressiva de linfócitos T CD4+. Porém, uma pequena porção desses pacientes (5-15%) permanece clinica e/ou imunologicamente estável por anos. O termo “não progressor de longo prazo” foi desenvolvido para designar tais pessoas, baseando-se na duração da infecção, nas contagens de linfócitos T CD4+ e na baixa viremia.

Controladores de Elite 1

Além desses, existe um subgrupo de indivíduos que são capazes de manter a carga viral abaixo dos limites de detecção (< 50 cópias de RNA/mL), referidos como controladores de elite ou supressores de elite.

Os critérios para ser considerado um controlador de elite são: (1) sorologia positiva para anticorpos anti-HIV, (2) nenhuma terapia antiretroviral nos 12 meses anteriores e (3) pelo menos três determinações de RNA do HIV que devem estar abaixo do limite de detecção no período de 12 meses.

Possíveis mecanismos envolvidos no controle do HIV

Controladores de elite possuem certos alelos de antígenos leucocitários humanos (HLA) de classe I aprimorados e geralmente têm linfócitos T CD8+ que produzem múltiplas citocinas e/ou proliferam em resposta aos peptídeos do HIV.

Adicionalmente, eles possuem linfócitos T CD4+ que expressam altos níveis de interleucina 2 (IL-2) e interferon-gama (IFN-γ) específicos contra o HIV. Além disso, os controladores têm receptores de células NK enriquecidos, envolvidos na regulação dessas células.

Alguns supressores de elite hospedam vírus que contêm mutações e/ou deleções em importantes genes regulatórios e acessórios, especialmente o nef.

A existência desses indivíduos infectados controladores é uma esperança no desenvolvimento de uma vacina ou de novas terapias para combater a infecção, e quem sabe, um dia, podemos chegar à cura da doença.

Para saber mais, leia o artigo na íntegra: Deeks, Steven G. et al. Human Immunodeficiency Virus Controllers: Mechanisms of Durable Virus Control in the Absence of Antiretroviral Therapy. Immunity, 2007. | Imagem: Visual Science.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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