Pela primeira vez, pesquisadores transformam células adultas em células-tronco hematopoiéticas

Por Brunno Câmara - segunda-feira, junho 05, 2017

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

CTH reprogramadas, em verde, surgindo de células de camundongos. Em cinza, células que compõem o nicho vascular

Pesquisadores da Weill Cornell Medicine em Nova Iorque, EUA, descobriram um método inovador para transformar células endoteliais vasculares em células sanguíneas. É a primeira vez que um grupo de pesquisa consegue gerar células-tronco hematopoiéticas (CTH).

CTH são células de longa sobrevida com a capacidade de autorrenovação, o que mantêm um pool infinito de células, garantindo que haja sempre sangue sendo produzido por toda a vida do indivíduo. Quando isso não ocorre, doenças sanguíneas surgem, como anemias, leucemias, aplasias entre outras.

Até hoje, pesquisadores tentavam encontrar uma maneira de produzir CTH saudáveis para curar essas doenças, mas nunca tinham conseguido simular o microambiente da medula óssea de maneira adequada para a manutenção dessas células.

Em um artigo publicado recentemente na Nature, pesquisadores demonstraram que foram capazes de converter células endoteliais vasculares em CTH funcionais, que podem ser transplantadas e fornecer uma fonte de novas células sanguíneas.

Além disso, eles descobriram que tipos de células endoteliais especializadas atuam como um microambiente fonte de nutrientes, conhecido como nicho vascular, que estimula a autorrenovação das CTH convertidas.

O grupo usou sua abordagem de conversão em modelos murinos de transplante de medula óssea que possuem função imunológica normal. Retirou-se células endoteliais isoladas de órgãos de camundongos adultos e as induziram a produzir certas proteínas em grande quantidade, que são associadas com a função das CTH.

Essas células reprogramadas foram cultivadas em co-cultivo com o nicho vascular construído. As células CTH reprogramadas foram então transplantadas em camundongos que tinham sido irradiados para destruir todas as células sanguíneas. Foi monitorado para conferir se as células transplantadas se autorrenovariam e produziriam células sanguíneas saudáveis.

Notavelmente, o procedimento de conversão produziu uma infinidade de CTH transplantáveis que regeneraram o sistema sanguíneo nos camundongos durante seu período de vida. Todo os componentes do sistema imunológico foram restaurados.

Os camundongos do estudo viveram normalmente seu tempo de vida, morrendo de forma natural, sem sinais de leucemia ou outras doenças hematológicas.

Se esse método puder ser ampliado e aplicado em humanos, as aplicações clínicas seriam inúmeras. Isso poderia fornecer células-tronco para pacientes que precisam de doadores de medula óssea mas não conseguem alguém compatível. Além disso, poderia ser uma nova maneira de curar leucemias e outras doenças hematológicas, como a anemia falciforme.

Artigo: Lis R, et al. Conversion of adult endothelium to immunocompetent haematopoietic stem cells. Nature 545: 439-445, 2017 <link>.

Imagem:  Dr. Raphael Lis/Flow Cytometry and Microscopy Core, Starr Foundation, Tri-Institutional Stem Cell Derivation Laboratory.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao |