Droga experimental capaz de eliminar qualquer tipo de vírus - Atualizado

Por Brunno Câmara - quinta-feira, agosto 18, 2011

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Nas últimas décadas, a medicina tem enfrentado os vírus basicamente de duas maneiras: ou com remédios capazes de atacar infecções existentes ou com vacinas para preveni-las. O problema é que esses micro-organismos sofrem mutações muito rapidamente, fazendo com que tanto os medicamentos quanto as vacinas sejam capazes de combater apenas um vírus específico, uma linhagem ou uma família deles, tendo que ser redesenhados ou refeitos a cada mutação.

Agora, no entanto, esses pequenos agressores poderão ter pela frente um adversário do qual não poderão escapar. Uma droga experimental em desenvolvimento por cientistas do Laboratório Lincoln do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) seria capaz de dizimar qualquer célula infectada sem afetar suas vizinhas saudáveis.

O novo remédio tem como alvo uma molécula comum a toda célula infectada por um vírus. Quase todo micro-organismo do tipo cria cadeias duplas de RNA, com 30 pares-base para se replicar numa tentativa de tomar o comando da célula, enquanto células saudáveis de mamíferos nunca produzem cadeias duplas de RNA com mais de 23 pares-base. Dessa forma, ao detectar a tentativa de ataque do vírus, a célula infectada produz uma enzima chamada PKR para tentar impedir a produção de cadeias mais longas de RNA. A maioria dos vírus, no entanto, consegue enganar essa sentinela e seguir com a infecção.

De olho nesta característica das células de mamíferos, Todd Rider e sua equipe no MIT decidiram unir a ação da PKR a uma proteína chamada APAF-1 que faz a célula se "suicidar" com a liberação de uma série de enzimas destrutivas. Células saudáveis normalmente guardam a APAF-1 para situações extremas, como a autodestruição de células cancerígenas, mas como parte do novo remédio antiviral, batizado DRACO, a proteína é ativada assim que a PKR identifica as longas cadeias de RNA associadas a uma infecção.

Isso faz com que "o vírus seja pego com as calças arriadas", destruindo a célula antes que ele consiga terminar de construir novas versões dele em seu interior, explicou Rider à revista "New Scientist". Segundo o pesquisador, mesmo que os fragmentos de moléculas genéticas do vírus escapem da célula destruída, eles não terão as capas de proteínas que permitem que viagem de uma célula para outra, não podendo infectara os tecidos saudáveis a seu redor.

- Assim como os antibióticos revolucionaram o tratamento de infecções bacterianas, este projeto tem o potencial de tratar ou prevenir toda uma gama de doenças infecciosas - disse Rider à revista, acrescentando que os alvos podem ser desde os vírus da gripe comum até os mais resistentes e fatais micro-organismos, como o HIV.

Em testes, Rider infectou células humanas e de ratos com 15 tipos diferentes de vírus, desde o causador da gripe comum até o da dengue. Em todos casos, o DRACO conseguiu matar as células infectadas antes que elas espalhassem os vírus e não afetou células saudáveis.

A abordagem, no entanto, já enfrenta críticas. Andrea Branch, da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York, considerou o trabalho intrigante, mas destacou que o DRACO é uma proteína muito grande que pode ter dificuldades para penetrar as células doentes. Ela também avaliou que matar todas as células infectadas pode ser perigoso para pessoas com infecções virais em estágio avançado.

- Imagine que 100% de seus hepatócitos (células do fígado) estejam doentes e você usa esse remédio. Você morreria de insuficiência hepática - declarou Branch à "New Scientist".

Timothy Tellinghuisen, do Instituto de Pesquisas Scripps, na Flórida, lembrou ainda que alguns vírus são capazes de esconder suas cadeias de RNA dos sentinelas celulares, podendo assim fugir do DRACO.

ARTIGO ORIGINAL EM INGLÊS 
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Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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