Diferenças entre os testes treponêmicos e não treponêmicos

Por Brunno Câmara - sexta-feira, novembro 07, 2025

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Resumo Rápido

  • Testes treponêmicos detectam anticorpos específicos contra Treponema pallidum e permanecem reagentes mesmo após o tratamento;
  • Testes não-treponêmicos detectam anticorpos não específicos e são usados para triagem e monitoramento terapêutico;
  • O Manual Técnico para o Diagnóstico de Sífilis, do Ministério da Saúde, estabelece os fluxogramas para o diagnóstico laboratorial utilizando esses testes;
  • Para monitoramento pós-tratamento, testes não-treponêmicos são utilizados; títulos baixos podem indicar cicatriz sorológica.

Introdução

Os testes laboratoriais são de extrema importância para o diagnóstico de sífilis.

O Treponema pallidum não pode ser cultivado in vitro, então os testes sorológicos são considerados o padrão-ouro nesse diagnóstico.

Eles são classificados em dois tipos: testes treponêmicos e testes não treponêmicos.

Aqui, vamos ver quais são eles e suas diferenças.

O que são testes treponêmicos?

São testes laboratoriais que detectam a presença de anticorpos específicos (IgM, IgG e IgA) contra o T. pallidum.

São exemplos de metodologias utilizadas:

A detecção do DNA da bactéria por PCR também é considerada um teste treponêmico.

Vale dizer que nem sempre a presença do anticorpo específico (resultado reagente) significa que o paciente está infectado.

Por causa da IgG de memória, mesmo após o tratamento, os resultados darão reagentes. E, dificilmente, irão se tornar não reagentes.

Por isso, é necessário fazer a associação do resultado do teste treponêmico com o resultado do teste não treponêmico e também com a história clínica do paciente.

O que são testes não treponêmicos?

São testes que detectam anticorpos não específicos para T. pallidum, mas que são encontrados em pacientes com sífilis.

    São exemplos de metodologias utilizadas:

    • Floculação: VDRL, RPR, USR e TRUST
    • Aglutinação
    • Ensaios imunoenzimáticos
    • Imunocromatografia

    Eles são utilizados tanto para a detecção qualitativa (reagente ou não reagente) quanto para fazer a titulação (semi-quantificação) dos anticorpos em amostras cujo resultado foi reagente.

    Por não serem específicos, resultados falso-positivos podem ocorrer. Geralmente, em baixos títulos.

    Sendo assim, é sempre necessário fazer a confirmação de um novo caso da doença com testes treponêmicos. 

    Os testes que usam a floculação são os mais usados, com destaque para o VDRL. Neles, é usado um reagente que tem como base lecitina, colesterol e cardiolipina (suspensão antigênica).

    Os anticorpos não treponêmicos (IgM e IgG) presentes na amostra se ligam às cardiolipinas. São anticorpos produzidos contra substâncias da bactéria e das células lesadas.

    Triagem e confirmação

    Atualmente no Brasil, existem dois fluxogramas para serem usados no diagnóstico de sífilis. Eles estão disponíveis no "Manual Técnico para o Diagnóstico de Sífilis" do Ministério da Saúde.

    Esses fluxogramas são formados por testes feitos de forma sequencial. O objetivo é fazer com que haja o aumento do valor preditivo positivo de um teste inicial reagente.

    O Fluxograma 1 consiste na abordagem clássica. A triagem é feita com um teste não treponêmico e confirmada com um teste treponêmico.

    O Fluxograma 2 consiste na abordagem reversa à clássica. É empregado um teste treponêmico como primeiro teste, que pode ser laboratorial ou rápido, seguido por um teste não treponêmico para a complementação da testagem.

    Para o monitoramento da resposta ao tratamento são usados os testes não treponêmicos, visto que os títulos reduzem a níveis muito baixos ou negativam ao decorrer do tempo.

    A persistência de títulos baixos denomina-se cicatriz ou memória sorológica e pode durar anos ou a vida toda.

    Erros comuns

    • Interpretar teste treponêmico reagente como infecção ativa sem correlação clínica.
    • Monitorar resposta terapêutica apenas com teste treponêmico.
    • Desconsiderar possibilidade de falso-positivo em testes não-treponêmicos (VDRL) de baixo título.

    Perguntas frequentes

    P: Um teste treponêmico reagente significa infecção ativa?

    R: Não necessariamente. Pode indicar infecção passada tratada. Use teste não-treponêmico + quadro clínico para interpretar.

    P: O que indica boa resposta ao tratamento?

    R: Redução progressiva dos títulos no teste não-treponêmico.

    P: O teste treponêmico pode ser usado para monitoramento?

    R: Não é o ideal. Para monitoramento pós-tratamento, use o teste não-treponêmico.

    Referências

    • Medscape. Syphilis Workup, 2017 (acesso em 10/2021).
    • Brasil. Ministério da Saúde. Manual Técnico para Diagnóstico da Sífilis. Brasília - Ministério da Saúde, 2021.
    • Telelab. Ministério da Saúde. Aula 6 - Testes Treponêmicos - Ministério da Saúde, 2014.
    • Telelab. Ministério da Saúde. Aula 2 - Diagnóstico da Sífilis - Ministério da Saúde, 2014.

    Brunno Câmara Autor

    Brunno Câmara - Biomédico responsável técnico e gestor da qualidade no Laboratório Clínico do HC-UFG/Ebserh, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do HC-UFG/Ebserh. Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro. Tutor da residência multiprofissional de Biomedicina do HC-UFG/Ebserh. Criador do blog Biomedicina Padrão.
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