Respirando Biomedicina: Experiência com parasitologia na graduação
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A parasitologia é uma das áreas da biomedicina que poucas pessoas realmente se interessam. No texto a seguir o biomédico Bruno Barbosa faz uma reflexão sobre sua importância.
Foto por UW-Madison, University Communications
“Desde a sua criação, na década de 60, a Biomedicina nunca esteve em voga como agora. Jornais, revistas, sites, propagandas e anúncios buscam, ainda que paulatinamente, exortar aos novos vestibulandos sobre essa área que cresce de uma forma surpreendente. Entretanto, o que se vê nos meios de comunicação são as temáticas que mais impactam a saúde pública, como a Genética, a Bacteriologia, a Virologia e a Reprodução Assistida. Não podemos ser hipócritas em afirmar que estas ciências não são importantes, porém é fundamental que a propagação do conhecimento seja igualitária em todos os panoramas do curso. Dentre esses está a Parasitologia – ciência que estuda os parasitos propriamente ditos (protozoários, helmintos e artrópodes), seus hospedeiros e vetores, bem como suas inter-relações.
Bruno Barbosa Pacifico,
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical (Fiocruz/RJ)
A Parasitologia é uma área extremamente interessante, principalmente na abordagem das chamadas doenças tropicais negligenciadas (DTNs), que acometem milhares de pessoas em todo o mundo. Sua criação foi baseada na necessidade da busca do conhecimento e da cura de doenças que se manifestavam em pacientes no século XIX. Decanos do Sanitarismo e da Infectologia, como Adolpho Lutz, Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, nos deram o prazer de identificar formas evolutivas parasitárias que hoje sabemos serem oportunistas e, eventualmente, devastadoras nos seus hospedeiros.
A paixão pela Parasitologia surgiu de uma maneira quase que mágica. O fato de ter adquirido os primeiros conhecimentos ainda nos ensinos fundamental e médio, com a elucidação na Universidade, tudo isso se tornou o ponto-chave para o início do verdadeiro “casamento” entre mim e os “bichinhos” nojentos ou repugnantes, como já ouvi falar diversas vezes. Foi exatamente assim que me encontrei na primeira aula da disciplina na Universidade Federal Fluminense (RJ), já que confesso ter sido amor à primeira vista. O tempo foi passando e as decisões sendo tomadas e, depois de passar por diversos laboratórios de pesquisa, me realizei na identificação de estruturas parasitárias em amostras de alfaces crespas, provenientes de feiras livres de dois bairros cariocas. Saber que eu podia auxiliar na qualidade das hortaliças oferecidas, sugerindo medidas profiláticas no combate a eventuais contaminações, foi de sumo prazer acadêmico e evolução pessoal.
Apesar da área de Parasitologia caminhar no cenário científico, tem-se observado uma insistente resistência dos discentes em tentar se abrirem a estes conhecimentos para se aprofundarem nas suas indagações. Este fato é, de certo modo, desanimador, pois ainda vemos alunos apáticos e desinteressados por essa área tão brilhante e carente de profissionais. O recebimento de amostras, o preparo de soluções, a visualização do material, o meter a “mão na massa”? “Ai, que nojo”! “Não vou meter a mão nessas coisas”! Todas estas reações são tão comuns! Todavia, o que precisamos compreender é que todas essas etapas são a vida dos parasitologistas, sejam eles da pesquisa científica ou das análises clínicas, porque eles possuem um verdadeiro mundo em suas mãos. Produzir artigos, fornecer resultados e buscar novos tratamentos para as mazelas parasitológicas são desafios que nos instigam a superar nossas limitações.
O que deve ser reiterado é que a Parasitologia ainda clama por indivíduos interessados, capacitados e dispostos a descobrir a solução de problemas que são esquecidos por quem deveria fortemente nos proteger, os governantes. Exatamente, a mesma cúpula de governantes que preferem atender aos seus interesses a ajudar quem precisa de intervenções médicas. As parasitoses são enfermidades inadmissíveis no Brasil, porque são causadas, principalmente, pela falta de saneamento básico e de programas de educação em saúde, pontos ainda galopantes no país. Nós, biomédicos, e aqueles em formação, temos a obrigação de nos mobilizarmos frente aos cidadãos, na tentativa de reverter essa situação vergonhosa.
Espero, ansiosamente, que novos alunos se interessem pela Parasitologia e comecem, desde já, a desenvolver projetos de pesquisa ou ingressar em laboratórios de análises clínicas, evoluindo como profissionais. Desejamos, também, que a consciência “parasitológica” venha nos envolver ainda mais, já que seremos divulgadores da informação, a serviço da Ciência e da população.”
Bruno Barbosa Pacifico
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical (Fiocruz/RJ)