Neutrófilos pró-cancerígenos

Por Brunno Câmara - quarta-feira, outubro 06, 2021

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Um estudo de pesquisadores da Universidade de Tel Aviv avaliou o desenvolvimento de glioblastoma, um tipo de câncer cerebral, em modelos animais com o sistema imune funcional para simular melhor o desenvolvimento desse tipo de tumor em humanos.

Geralmente, as pesquisas com tumores usam modelos animais cujo sistema imune é inativado ou inexistente. O objetivo disso é que o sistema imune do animal não interfira no crescimento das células cancerígenas.

Porém, esses modelos não permitem o monitoramento da interação entre o tumor e as células do sistema imune.

Neste estudo de Magod, P. et al., foram usados camundongos com sistema imune funcional o que permitiu o crescimento gradual do tumor e que fosse avaliado a sua interação com diferentes células imunes.

Um dos achados foi que neutrófilos atuam como "agentes duplos". Inicialmente, eles atacam as células tumorais, mas depois mudam de lado, e também favorecem o desenvolvimento e crescimento do tumor.

Neutrófilos

Já é historicamente reconhecido que neutrófilos são as primeiras células a responder contra agentes infecciosos e que estão envolvidos nos processos inflamatórios. 

Hoje, sabe-se que eles também têm papel importante fazendo uma ponte entre as imunidades inata e adaptativa, regulando a hematopoiese, angiogênese e reparo de feridas.

No contexto do câncer, já foi demonstrado que neutrófilos infiltram o microambiente em diversos tipos de tumores. 

Inclusive, a neutrofilia está associada a um pior prognóstico da doença.

Estudos recentes tentam entender como essa infiltração pode afetar a progressão do tumor.

Neutrófilos e monócitos com atividade imunossupressora são chamados de células supressoras de origem mieloide (myeloid-derived suppressor cells / MDSCs).

Destaques da pesquisa

Foi visto que os neutrófilos ficam em grande proximidade com o tumor ao longo de seu desenvolvimento e que são continuamente e consistentemente recrutados da medula óssea.

Na instalação do tumor inicial, os neutrófilos recrutados fizeram com que o crescimento do tumor diminuísse. Porém, essa capacidade foi perdida à medida que o tumor avançou.

Com o avanço do tumor, foram recrutados da medula óssea neutrófilos com um fenótipo pró-tumorigênico.

Os resultados revelaram que a regulação funcional desses neutrófilos ocorreu mais cedo do que se pensava, ainda na medula óssea. 

Pode-se pensar então que existe uma via de sinalização entre tumor e medula óssea influenciando na produção de neutrófilos com um fenótipo que promove o crescimento do tumor.

Em resumo, os neutrófilos recrutados nos estágios iniciais do tumor tinham propriedades anti-tumorigênicas. Porém, com o tumor bem estabelecido eles passaram a ter propriedades pró-tumorigênicas.

Entender os mecanismos pelos quais isso ocorre pode ser de grande ajuda na imunoterapia contra o câncer.

Referência

Prerna Magod, Ignacio Mastandrea, Liat Rousso-Noori, Lilach Agemy, Guy Shapira, Noam Shomron, Dinorah Friedmann-Morvinski. Exploring the longitudinal glioma microenvironment landscape uncovers reprogrammed pro-tumorigenic neutrophils in the bone marrow. Cell Reports, 2021; 36 (5): 109480 DOI: 10.1016/j.celrep.2021.109480

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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