Uma tragédia que nos obriga a falar de Segurança do Paciente
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Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.
Em novembro deste ano, uma criança de seis anos morreu após receber, erroneamente, adrenalina por via intravenosa em um hospital de Manaus.
O caso teve repercussão nacional e trouxe à tona vários problemas. Eu como pai de três crianças fiquei indignado com o que aconteceu. Nem consigo imaginar o que esses pais estão passando.
A médica fez a prescrição errada, a farmácia dispensou o medicamento sem questionamento e a técnica de enfermagem administrou o medicamento cegamente.
"Mas, Brunno, por que você trouxe esse assunto? Eu trabalho em laboratório clínico, e nem hospitalar ele é."
Por que esse caso trágico pode nos ajudar a entender um tema crucial para qualquer serviço de saúde: a segurança do paciente.
Segurança do paciente
A segurança do paciente é a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado à atenção à saúde.
Sempre que um paciente vai a um laboratório, hospital etc., existem riscos inerentes à assistência. Sabendo disso, os serviços de saúde devem garantir que riscos e erros sejam minimizados o máximo possível.
No Brasil, o Programa Nacional de Segurança do Paciente e a RDC nº 36/2013 da Anvisa estabelecem ações para melhorar a qualidade e a segurança em todos os serviços de saúde.
As principais estratégias incluem identificar corretamente os pacientes, garantir a higienização das mãos, assegurar a comunicação efetiva e envolver o paciente e seus familiares no próprio cuidado.
Segurança do paciente em laboratórios clínicos
No laboratório clínico, a segurança do paciente é aplicada para reduzir riscos, prevenir erros e garantir resultados confiáveis durante todas as etapas do processo laboratorial: pré-analítica, analítica e pós-analítica.
Por isso é essencial que os laboratórios tenham protocolos e normas relacionadas a essas ações de segurança.
A seguir trago algumas dicas de como vocês podem aplicar a segurança do paciente nas fases das análises clínicas.
Segurança do paciente na Fase pré-analítica
Sabemos que é nessa fase que a maior parte dos erros acontece. E ela deve receber atenção especial.
A seguir os pontos mais críticos que afetam esta etapa e o que fazer para garantir a segurança do paciente:
Identificação correta do paciente:
- Uso de dois identificadores (nome completo + data de nascimento).
- Conferência ativa (o paciente verbaliza).
- Pulseiras padronizadas internamente.
Solicitação adequada e rastreável:
- Prescrição eletrônica para reduzir ilegibilidade e trocas de exames.
- Checagem de coerência entre pedido de exame e indicação clínica.
Coleta segura e padronizada
- Protocolos de coleta bem estabelecidos (ordem, volume correto, tipo de tubo).
- Treinamento periódico da equipe.
- Prevenção de hemólise, coágulos, enchimento inadequado.
Transporte e conservação apropriados
- Controle de temperatura, tempo de trânsito e agitação.
- Uso de recipientes adequados e identificação de material biológico.
Segurança do paciente na Fase analítica
Na fase analítica, o essencial é garantir que o material biológico do paciente seja analisado de forma padronizada, segura, com precisão e exatidão, gerando o resultado certo.
Para isso é importante garantir que os sistemas analíticos estejam aptos a funcionar e realizar as análises.
Isso inclui:
- Fazer calibrações e manutenções periódicas;
- Fazer o CIQ para todos os testes laboratoriais;
- Participar de ensaio de proficiência (CEQ);
- Ter um programa de gestão da qualidade;
- Ter padronização técnica (POPs, ITs, validações etc.)
- Ter programa de educação permanente.
Segurança do paciente na Fase pós-analítica
Mesmo que a coleta tenha sido bem feita e a análise da amostra tenha sido a melhor possível, não podemos afrouxar as rédeas na etapa final.
Um erro de digitação, uma máscara de laudo com escrita errada, um resultado crítico não informado, dentre outros, podem colocar a vida do paciente em risco.
Como garantir a segurança do paciente nesta fase:
- Delta check para detectar resultados inesperados;
- Laudos claros, padronizados e sem ambiguidades;
- Notificação imediata de resultados críticos;
- Garantia de integridade e confidencialidade dos dados;
- Rastreabilidade completa da amostra até o laudo.
Um estudo de caso para exemplificar
Uma mulher de 56 anos, internada para investigação de anemia leve, realizou coleta de sangue para hemograma e eletrólitos. Durante a coleta no leito hospitalar, houve troca de etiquetas entre dois pacientes do mesmo quarto.
O resultado liberado indicava potássio sérico de 6,8 mmol/L, compatível com hipercalemia grave. Sem confirmação laboratorial adicional, a equipe médica iniciou imediatamente tratamento com insulina e glicose intravenosa.
Horas depois, a paciente apresentou hipoglicemia sintomática, com sudorese, confusão mental e queda do nível de consciência, necessitando atendimento emergencial.
Após revisão dos exames, identificou-se que o resultado de potássio elevado pertencia a outro paciente, portador de insuficiência renal crônica.
Dano ao paciente
- Tratamento desnecessário
- Evento adverso (hipoglicemia)
- Prolongamento da internação
Falha de segurança
- Identificação incorreta da amostra
- Ausência de dupla checagem e de delta check
- Liberação de resultado crítico sem confirmação
Como o dano poderia ter sido evitado
- Uso de dois identificadores do paciente na coleta
- Etiquetagem à beira-leito
- Repetição/confirmação de resultados críticos
- Comunicação estruturada entre laboratório e equipe assistencial