Entrevista com Dr. Jeffchandler Belém de Oliveira

Por Brunno Câmara - sábado, setembro 14, 2013

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

Dr. Jeffchandler Belém de Oliveira     Biomédico Perfusionista (especialista em Circulação Extracorpórea e órgãos artificiais), membro do Instituto Brasileiro de Biomedicina (INB). Perfusionista titular da equipe Cirucor Centro-Oeste e Presidente da Sociedade Brasileira de Circulação Extra Corpórea.
         O Dr. Jeffchandler foi o primeiro Biomédico a presidir a SBCEC, sociedade que congrega todos os profissionais que atuam na especialidade. É uma especialidade em que os biomédicos podem atuar, e que a partir de janeiro de 2009 consta na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) do Biomédico e área de atuação regulamentada pelo CFBM.
 
 
Confira a entrevista
 
Blog: Em que ano e onde o você se formou?
Dr. Jeffchandler: Em 2001 pela PUC Goiás

Blog: Por que escolheu biomedicina?
Dr. Jeffchandler: Comecei trabalhando em laboratórios ainda no 2º grau, pois cursava o técnico profissionalizante em Patologia Clínica. Daí comecei a conviver em laboratório e posteriormente trabalhando em dois empregos tive a oportunidade de trabalhar em banco de sangue concomitantemente. Sendo assim Biomedicina me pareceu o caminho mais natural.

Blog: Qual matéria do curso mais gostou?
Dr. Jeffchandler: Difícil dizer, pois foram várias. Destaco a Fisiologia.

Blog: Qual área o Sr. acha que é mais promissora, dentre todas as que o biomédico pode escolher?
Dr. Jeffchandler: Creio que a área de imagem é sem dúvida a que oferece as melhores oportunidades de inserção no mercado de trabalho, mas nas escolas de Biomedicina, prepara se o aluno para ser empregado e não empreender, afinal de contas temos 35 áreas de atuação e em muitas o Biomédico pode ser seu próprio patrão, no entanto não há formação nem disciplinas para vislumbrar as oportunidades nem profissionais com visão multidisciplinar.

Blog: Por que você escolheu Circulação Extracorpórea?
Dr. Jeffchandler: Na verdade fui escolhido. Tudo aconteceu muito rápido. Agarrei a oportunidade que surgiu, me apaixonei pela área, na formação ninguém nem ao menos sabia o que era. Acabei contribuindo para a difusão da área no meio Biomédico.

Blog: O que é Circulação Extracorpórea?
Dr. Jeffchandler: É o ato de manter o paciente com suporte artificial de vida coração-pulmão artificial ou “by pass” cardiopulmonar total, muito utilizado nas cirurgias cardiovasculares, mas também em outros procedimentos como as afecções da aorta, transplantes de coração e/ou pulmão, transplante hepático e em alguns tipos de retirada de tumores. Consiste em um console com dispositivos descartáveis que são montados de acordo com a necessidade do paciente.

Blog: O que, de fato, o biomédico pode fazer nessa área?
Dr. Jeffchandler: Bem, durante o procedimento como numa cirurgia cardiovascular o paciente fica com a função cardiopulmonar sendo realizada por meio de dispositivos externos artificiais  (Coração, Pulmão e Rim artificial), onde o sangue é drenado, filtrado, oxigenado e re-injetado perfundindo todo o organismo, se monitora pressão, temperatura, fluxo, coagulação, equilíbrio hidro-eletrolítico e  hemodinâmico, débito renal e providencia-se as devidas correções.

Como pode-se notar este especialista deve ser extremamente capacitado para tal, pois pode ser um fator determinante no resultado final do procedimento, que neste caso é vida ou morte. Então se pode dimensionar a  importância  deste profissional na alta complexidade e a preocupação em divulgar a especialidade, pois nos dias de hoje ninguém admite um odontólogo prático, Médico prático ou outro profissional para serviço técnico especializado longe de uma formação sólida a luz da ciência, ou seja um prático.

Blog: Quais são os pré requisitos para atuar na Circulação Extracorpórea?
Dr. Jeffchandler: Graduação em Biomedicina e o postulante deve ter afinidade com as seguintes disciplinas: Anatomia, Fisiologia, Bioquímica, Farmacologia, Biofísica, Hematologia entre outras específicas para a área.

Blog: Qual a sua avaliação do mercado de trabalho? Está muito competitivo? Tem emprego para todo mundo? 
Dr. Jeffchandler: Atualmente existe a falta deste profissional (perfusionista), principalmente no serviço público onde nem sempre se conta com mão de obra que contemple os pré-requisitos impostos pela SBCEC, pois existe a necessidade de se criar o cargo em muitas instituições hospitalares  e dentro das estrutura dos estados, municípios e união.

Na iniciativa privada existem várias formas de contratação deste especialista bem como sua participação como membro efetivo das equipes cirúrgicas  e por meio de prestação de serviço. As relações profissionais dos dias atuais são muito dinâmicas devido à extrema facilidade das comunicações.

Sabemos que existem vários serviços que utilizam mão de obra desqualificada, porém vale lembrar que os serviços de cirurgia cardiovascular estão em cheque com o advento da cardiologia intervensionista (Hemodinâmica) e com o olhar mais atento da população para cobrar atendimento com profissionais habilitados o que tem incorrido em processos judiciais. Costumamos dizer que cada cirurgião tem o perfusionista que merece, existem relatos de cirurgiões que treinaram o trabalhador rural da sua fazenda para ser seu “perfusionista” (“Tocador de Bomba“, “Rapaz da bomba“ ou “Rapaz da perfusão”), ou seja, o compromisso deste com o bem estar do próximo, bem como sua reputação é irrelevante e a SBCEC não pode compactuar com atitude tão absurda.

A entidade (SBCEC) não reconhece profissionais que atuem sem estarem dentro das normas estatutárias. Se o fazem é por sua conta e risco com a conivência de cirurgiões inescrupulosos que apenas querem mão de obra desqualificada e barata e se expõem profissionalmente podendo lesar a integridade da vida alheia. É necessária a fiscalização por parte dos sindicatos e dos conselhos. Para quem tem boa formação, uma visão multicêntrica e grande capacidade de adaptação, não há falta de trabalho.

Blog: O Sr. acha que há uma grande diferença no curso de faculdades particulares e públicas?
Dr. Jeffchandler: Sim. Os alunos das instituições privadas normalmente se veem como simples consumidores, que querem ter sempre razão e, com isto, a relação entre docente e aluno se resume a um negócio. Nas públicas o docente tem um poder de exigir mais do aluno. Quanto as estruturas, acredito haver quase empate (varia de instituição para instituição).

Blog: Qual a dica que o Sr dá para quem está começando o curso agora? E para quem está terminando?
Dr. Jeffchandler: Para os que estão começando: Tente ser o melhor e aproveite todas as oportunidades de conhecer as mais variadas áreas da biomedicina. Não se contente apenas pelo que é oferecido pela sua instituição, busque encontros, jornadas e mini cursos de atualização. Para os recém formados: Realize várias pós em escolas conceituadas com boa estrutura e corpo docente qualificado.

Blog: Como o Sr. enxerga  a biomedicina e o que pode ser feito para melhorar a inserção no mercado de trabalho dos jovens recém formados?
Dr. Jeffchandler: Bem, entre as novas profissões a Biomedicina é uma das que mais fornecem opções, afinal temos 35 habilitações, o que poucas profissões oferecem. No entanto as escolas focam na área de análises clínicas que apesar da importância tem limite de absorção de profissionais e no entanto é praticamente a única a ser representada nos conselhos então temos uma dinâmica interessante pois sem membros de outras áreas torna se dificil a discussão na esfera pública e os conselhos e sindicatos acabam não cumprindo seu dever pois faltam integrantes especializados em outras áreas. Atualmente o INB foge a regra geral.

Soma-se a isto a falta de representação política pois não temos vereadores, deputados, senadores e/ou governadores biomédicos, o que torna dificil ter voz na esfera pública e lembrando que nosso processo de assistência pública (SUS) depende de leis formuladas pelo legislativo e executivo. Isto cabe a toda a classe se organizar (Afinal quem nos representa).

Ressalto um último ponto que é a falta de disciplinas empreendedoras, pois nas faculdades vejo a imensa maioria dos alunos querendo apenas conseguir um emprego, quando poderiam se tornar empresários nas mais variadas áreas da biomedicina, para isto será necessário uma mudança de comportamento por parte dos alunos e dos recém formados que acham que apenas o diploma basta. Tenho muitos amigos que são biomédicos entre eles vários sem perspectivas alguns ganhando o piso salarial e muitos ganhando mais de R$ 10.000 o que torna estes profissionais tão diferentes é a dedicação e o investimento na carreira.

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Gostaríamos de agradecer ao Dr. Jeffchandler Belém por essa entrevista.
Esperamos que essa entrevista tenha sanado algumas dúvidas sobre a profissão e o mercado de trabalho.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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