Teste de avidez dos anticorpos IgG

Por Brunno Câmara - quarta-feira, agosto 31, 2011

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

imunoglobulinas-m-e-g

O  diagnóstico  sorológico  das  doenças  infecciosas  é  realizado  através  da  pesquisa  e dosagem dos anticorpos das classes IgM e IgG,  produzidos pelo organismo em resposta a  um  agente  infeccioso. 

Classicamente,  o  primeiro  anticorpo  a  ser  produzido  na infecção  primária  é  da  classe  IgM,  sendo,  então,  acompanhado  pela  produção  de anticorpos da classe IgG.

Os anticorpos IgM ficam presentes por um curto período de tempo, normalmente desaparecendo de três a seis meses após a infecção, enquanto os anticorpos IgG permanecem presentes por longo período, por vezes o resto da vida.

Portanto, a presença de anticorpos IgM é indicativa de infecção aguda ou recente, e a presença somente de IgG, de infecção passada.

resposta humoral 
Figura - Produção de anticorpos em relação ao tempo

Entretanto,  com  o  desenvolvimento,  nos  últimos  anos,  de  novas  metodologias  que apresentam  maior  sensibilidade  para  o  diagnóstico  dos  processos  infecciosos,  esse conceito tem-se alterado devido à possibilidade da detecção de IgM por um período prolongado.

Esses  anticorpos  IgM,  denominados  residuais,  podem  ser  detectados, geralmente, em valores baixos, até 18 a 24 meses após a infecção. A sua presença, juntamente  com  anticorpos  IgG,  por  vezes,  dificulta  a  interpretação  do  tempo  de infecção.  Além  disso,  os  anticorpos  IgM  podem  ser  detectados  na  reinfecção  ou reativação de processos infecciosos, bem como em reações cruzadas.

Recentemente,  foi  desenvolvido  um  método  de  ensaio  imunoenzimático  capaz  de diferenciar  infecção  recente  de  infecção  passada,  com  a  presença  de  IgM  residual, através da avaliação da capacidade de ligação dos anticorpos IgG. Tal capacidade de ligação, denominada avidez, é diretamente proporcional ao tempo de infecção.

avidez

Em  quadros  infecciosos  com  até  três  a  quatro  meses  de  evolução,  a  IgG  apresenta uma  baixa  avidez,  enquanto  que,  em  infecções  com  mais  de  quatro  meses  de evolução,  os  anticorpos  IgG  apresentam  alta  avidez.  Em  algumas  situações,  os anticorpos IgG  podem  apresentar  uma  avidez  intermediária,  o  que  impossibilita  a definição segura do tempo de infecção.

O  teste  de  avidez  para  anticorpos  IgG  tem  grande  importância,  principalmente  em  pacientes grávidas que apresentam simultaneamente anticorpos das classes IgM e IgG no exame  pré-natal  para as doenças infecciosas que podem acometer o feto. Nessa situação, a determinação do tempo de infecção é de extrema importância, pois pode definir a necessidade de tratamento caso a  infecção tenha ocorrido durante a gravidez, como no caso da toxoplasmose, ou tranquilizar a gestante e o médico, caso a infecção tenha ocorrido antes da gravidez.

Embora o teste de avidez já tenha sido utilizado no diagnóstico de numerosas doenças infecciosas, hoje a sua maior aplicação é  no  diagnóstico  da  toxoplasmose, rubéola e citomegalovirose,  principalmente em pacientes gestantes.

EXPERIMENTO

Para  comprovar,  em  nossa  população,  os  dados  da  literatura  que  demonstram  a utilidade do teste de avidez dos anticorpos IgG na definição do tempo de infecção na toxoplasmose, foi realizado no Sérgio Franco o trabalho The Value of the IgG Avidity for  the  Diagnostic  of  Acute  infection  by  Toxoplasma  gondii,  apresentado  no  54º Congresso  da  Associação  Americana  de  Química  Clínica (AACC),  realizado  em Orlando, FL, EUA, em 2002, resumido em seguida:

Foram selecionados 56 soros, divididos em três grupos. Todos os soros foram avaliados utilizando-se os kits VIDAS® Toxo IgG Avidez, VIDAS® Toxo IgG e VIDAS® Toxo IgM.

Grupo I: 
12 soros de pacientes com quadro infeccioso agudo recente de toxoplasmose, inferior a três meses de duração, com anticorpos IgG e IgM presentes.

Grupo II: 
29 soros de pacientes sem quadro infeccioso agudo  de toxoplasmose, em 18 meses, com anticorpos IgG e IgM presentes.

Grupo III: 
15 soros de pacientes sem quadro infeccioso agudo  de toxoplasmose, em 18 meses, com anticorpos IgG presentes e anticorpos IgM ausentes.

RESULTADOS

Grupo I: 
100% dos soros com baixa avidez dos anticorpos IgG;

Grupo II: 
93,1%  dos  soros  com  alta  avidez  dos  anticorpos  IgG  e  6,9%  dos  soros  com  avidez intermediária;

Grupo III: 
100% dos soros com alta avidez dos anticorpos IgG.

CONCLUSÃO

Todos os soros de pacientes com evidência de infecção recente apresentaram baixa avidez de IgG. Mesmo com a presença concomitante de anticorpos IgG e IgM, a avidez da IgG nunca foi baixa nos soros de pacientes sem evidência de infecção nos 18 meses anteriores. Esses dados sugerem que o teste de avidez é suficientemente sensível e específico, sendo útil para elucidar o tempo de infecção e ajudar os médicos com uma ferramenta útil para um diagnóstico mais preciso da toxoplasmose.

avidez toxo

 

Fonte

VOTE BIOMEDICINA

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao | WhatsApp |