Glicemia - Investigação laboratorial

Por Brunno Câmara - quinta-feira, setembro 15, 2011

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A  glicose é a aldohexose mais importante para a manutenção energética do organismo.

Glicose

Em  condições  normais,  a  glicose  sanguínea (glicemia)  é  mantida  em  teores  apropriados  por meio  de  vários  mecanismos  regulatórios.  Após uma refeição contendo carboidratos, a elevação da
glicose circulante provoca:

  • Remoção pelo fígado de 70% da glicose transportada via circulação porta. Parte da glicose é oxidada e parte é convertida em glicogênio para ser utilizada como combustível no jejum. O excesso de glicose é parcialmente convertida em ácidos graxos e triglicerídios incorporados às VLDL (lipoproteínas de densidade muito baixa) e transportados para os estoques do tecido adiposo.
  • Liberação de insulina pelas células β do pâncreas. Entre os tecidos insulino-dependentes estão o tecido muscular, adiposo, diafragma, aorta, hipófise anterior, glândulas mamárias e lente dos olhos. Outras células, como aquelas do fígado, cérebro, eritrócitos e nervos não necessitam insulina para a captação de glicose (insulino independentes).

  • Outros hormônios (adrenalina, hormônio de crescimento, glicocorticóides, hormônios da tireóide) e enzimas, além de vários mecanismos de controle, também atuam na regulação da glicemia.

Estas atividades metabólicas levam a redução da glicemia em direção aos teores encontrados em jejum. Quando os níveis de glicose no sangue em jejum estão acima dos valores de referência, denomina-se hiperglicemia, quando abaixo destes valores, hipoglicemia.

A glicose é normalmente filtrada pelos gromérulos e quase totalmente reabsorvida pelos túbulos renais. Entretanto, quando os teores sanguíneos atingem  a  faixa  de  160  a  180  mg/dL,  a  glicose aparece na urina, o que é denominado glicosúria. Em todas as células, a glicose é metabolizada para produzir ATP e fornecer intermediários metabólicos necessários em vários processos biossintéticos.

INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL

O diagnóstico dos distúrbios no metabolismo da glicose depende da demonstração de alterações na concentração de glicose no sangue. As várias desordens do metabolismo dos carboidratos podem estar associadas com:

  • Aumento da glicose plasmática  (hiperglicemia)
  • Redução  da  glicose plasmática (hipoglicemia)
  • Concentração normal  ou  diminuída  da  glicose  plasmática  acompanhada de excreção urinária de açúcares redutores diferentes da glicose (erros inatos do metabolismo da glicose).

Os seguintes testes laboratoriais investigam alguns destes distúrbios

GLICOSE PLASMÁTICA EM JEJUM

A  determinação  da  glicemia  é  realizada  com  o paciente em jejum de 12-14h. Resultados normais não  devem  excluir  o  diagnóstico  de  distúrbios metabólicos dos carboidratos. Os critérios para a avaliação  em  homens  e  mulheres  não gestantes são:

- Normais: até 99 mg/dL
- Glicemia  de  jejum  inapropriada:  de  100  a  126 mg/dL
- Diabéticos: acima de 126 mg/dL
O  valor  de  126  mg/dL  foi  estabelecido  pois níveis superiores provocam alterações microvasculares e elevado risco de doenças macrovasculares.

GLICOSE PLASMÁTICA PÓS-PRANDIAL DE DUAS HORAS

2 horasA  concentração da glicemia duas horas após a ingestão de 75g de glicose em solução aquosa a 25% (ou refeição contendo 75g de carboidratos) é de considerável utilidade na avaliação do diabetes. Normalmente, após a ingestão de carboidratos, a glicose sanguínea tende a retornar ao normal dentro de duas horas.

Após duas horas da sobrecarga, os valores de glicemia plasmática ≥200 mg/dL são considerados diagnósticos  de  diabetes  mellitus.  Níveis  entre 140 e 200 mg/dL são encontrados na “tolerância à glicose alterada”.

Os indivíduos normais, que se submetem a esta prova, apresentam teores glicêmicos  ≤140 mg/dL. Entretanto, medicações, agentes químicos, desordens hormonais e dietas devem ser considerados ao examinar estes resultados. Além disso, os valores tendem a crescer com  a  idade  (10  mg/dL por  década  de  vida, após a idade de 40 anos). Deste modo, concentrações acima de 200 mg/dL podem ser encontradas em indivíduos idosos que não apresentam diabetes.

TESTE DE O´SULLIVAN

O teste de O´Sullivan é empregado para detectar o diabetes gestacional e deve ser realizado entre 24 e a 28 semana de gestação. À paciente em jejum é administrada 50g de glicose em solução aquosa a 25% por via oral. O sangue é colhido após 1 hora. Resultados iguais ou superiores a 140 mg/dL indicam a necessidade de um teste completo.

TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE (TOTG)

Medidas seriadas da glicose plasmática, nos tempos 0, 30, 60, 90 e 120 minutos após administração de 75g de glicose anidra (em solução aquosa a 25%) por via oral fornece um método apropriado para  o  diagnóstico  de  diabetes.  Apesar  de  mais sensível que a determinação da glicose em jejum, a TOTG é afetada por vários fatores que resulta em pobre reprodutibilidade do teste.

A menos que os resultados se apresentem nitidamente  anormais,  a  TOTG  deve  ser  realizada  em
duas ocasiões diferentes antes dos valores serem considerados anormais. As crianças devem receber 1,75 g/kg de peso até a dose máxima de 75 g de glicose anidra. A TOTG é indicada nas seguintes situações:

  • Diagnóstico do diabetes mellitus gestacional (neste caso, é empregado o TOTG modificado).
  • Diagnótico de “tolerância à glicose alterada” (ex.: em pacientes com teores de glicemia plasmática em jejum entre 100 e 126 mg/dL).
  • Avaliação de pacientes com nefropatia, neuropatia ou retinopatia não explicada e com glicemia em jejum abaixo de 126 mg/dL.

TOTG

O teste tolerância à glicose e os critérios diagnósticos são ligeiramente diferentes em gestantes. Nestes casos, administra-se 100g de glicose e as amostras de sangue são colhidas nos tempos 0, 60,  120  e  180  minutos.  Os  valores  em  mulheres não diabéticas são:

  • Jejum <105 mg/dL
  • Uma hora <190 mg/dL
  • Duas horas <165 mg/dL
  • Três horas <145 mg/dL

O diagnóstico de diabetes gestacional ocorre quando  dois  desses  limites  forem  atingidos  ou ultrapassados.

Referência: MOTTA, V. T. Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações. Vol. 7

VOTE BIOMEDICINA

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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