Valores de referência em análises clínicas são confiáveis?
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Estabelecer valores de referência pode ser considerado tedioso e uma tarefa subestimada. Os resultados dos exames laboratoriais, e consequentemente os valores de referência aos quais eles são comparados, são dependentes de muitos fatores, inlcuindo etnia, idade, gênero, dieta, peso, uso de cigarros e afins, medicamentos, ritmos diurnos e sazonais, estado reprodutivo (estágio do ciclo menstrual, uso de contraceptivos orais, gravidez, menopausa), posição corporal, maneira como a amostra foi obtida, manuseio e armazenamento da amostra, e por fim, metodologia utilizada.
Outro ponto a considerar é a incerteza do estado de saúde da população utilizada na definição dos intervalos. Definições de “aparentemente saudável” ou “auto declarado saudável” deixam espaço para interpretações além do desejado.
Os valores de referência são importantes para o diagnóstico e acompanhamento de pacientes. Comparar os intervalos definidos com os resultados alterados do paciente pode levar a um tratamento de sucesso.
Um pré-requisito é que os resultados do paciente comportem-se de modo semelhante à população de referência. Mas isso nem sempre acontece. Para algumas categorias de resultados, compará-los com um intervalo de referência é irrelevante.
Um exemplo são os marcadores tumorais, que mesmo quando suas concentrações diminuem após cirurgia, sugerindo sucesso, mudanças subsequentes nos níveis plasmáticos mesmo dentro dos valores de referência podem ser significantes. Um aumento sucessivo do PSA num paciente após prostatectomia, pode indicar progressão de doença, mesmo dentro dos “valores normais”.
Crianças também não são bem representadas nas populações adultas utilizadas na definição dos intervalos de referência. Os valores de sódio podem ser muito amplos, já os de potássio, muito estreitos; os de creatinina dependentes da idade. Na outra ponta, estão os idosos, que possuem várias comorbidades, dificultando ainda mais a comparação.
Estabelecer valores de referência requer atenção e foco. O ideal seria que esses valores representassem o analito e o grupo adequado do paciente e não apenas o método utilizado para dosar esse analito. Infelizmente, na maioria dos lugares isso ainda não acontece.
Marinus A Blankenstein. Reference intervals – ever met a normal person? Annals of Clinical Biochemistry, 2015.