O papel do Biomédico no Banco de Leite Humano

Por Brunno Câmara - domingo, maio 10, 2015

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

Foto: Ronny Santos / www.sjc.sp.gov.br

A nossa colega biomédica, Ana Beserra, entrou em contato para falar sobre o papel do biomédico no Banco de Leite Humano (BLH). Como foi um assunto que nunca tinha publicado aqui, achei válido a divulgação dessa área para vocês.

Ela trabalhou por três anos no BLH do centro de referência nacional do IFF/Fiocruz, onde a rotina é bem grande. Ela disse que foi uma ótima experiência e gostou muito de ter aprendido coisas novas e conhecido esse laboratório que foge do usual de patologia clínica e banco de sangue, que muitos biomédicos já conhecem.

Então, confira agora um pouco de como é a rotina de um BLH.

Banco de Leite Humano

O laboratório de processamento e controle de qualidade de leite humano tem o objetivo de suprir a demanda e o aporte nutricional de prematuros e recém-nascidos de muito baixo peso sem o uso de fórmulas (à base de leite de vaca ou à base de soja). Dentro do laboratório, o leite passa pelas etapas: recepção, estocagem, degelo, seleção e classificação, reenvase, pasteurização, controle de qualidade e distribuição.

O leite humano doado pode ser recebido de qualquer mãe sadia que queria se tornar doadora após exames hematológicos e imunológicos e ter excesso de leite. Todo leite deve ser acondicionado em frasco de vidro com tampa de plástico. E pode ser coletado tanto nos bancos de leite existentes pelo Brasil quanto no próprio domicílio da doadora após orientação de profissional de saúde quanto às medidas de higiene.

No BLH então, esse leite irá para a recepção onde ganhará uma numeração interna do banco e será observada a integridade da embalagem bem como as informações preenchidas corretamente pela doadora, nome completo, dia e horário de retirada do leite. Após esse processo o leite será estocado em freezer próprio de leite cru (porque ainda não foi pasteurizado) podendo ficar até 15 dias após a coleta do leite.

A próxima etapa é a de degelo do leite, que é feito em um banho-maria a 40°C, em seguida, o mesmo passará pelas etapas de seleção e classificação na qual é feita a inspeção do cor do leite (pode variar de água de coco a esverdeado – mães vegetarianas, muita riboflavina), flavor (não deve ter cheiro nenhum), embalagem de recebimento (mais uma vez é observada e a mesma deve estar íntegra) e sujidade (é visualizado pelo frasco em todas a posições a olho nu e com auxílio de espelho com lente de aumento). Sendo aprovado, ele passará para o reenvase, nessa etapa passamos o leite cru para embalagens autoclavadas.

O leite que possuir cor avermelhada ou marrom é descartado por ser sugestivo de presença de sangue, o mesmo ocorre quando o leite possui algum cheiro podendo ser dos mais diversos, como perfume, comida, produto de limpeza pois, a lactose tem a característica de absorver cheiros com facilidade ou cheiro de peixe ou ovo podre presença de micro-organismos que consumiram a lactose sendo descartado também. As sujidades mais encontradas no leite humano são do tipo pelo, pele e formiga sendo eliminado para etapas posteriores também.

Foto: Kleide Teixeira / www.paraiba.pb.gov.br

Na etapa de reenvase é feita a medição do volume de leite em cada frasco e também é coletado em tubo cônico aproximadamente 5 mL de leite cru para as análises de pH e crematócrito do leite. Na análise de pH, o método preconizado é a acidez titulável. A solução titulante é o NaOH ou solução Dornic e a solução indicadora é a fenolftaleína. Esse teste de acidez é feito em triplicata e depois tirada média aritmética dos três valores. A faixa de pH aceitável é entre 1 e 8, após 8 graus Dornic, o frasco de leite cru referente aquele tubo é descartado.

Somente os tubos aprovados passarão para a análise de crematócrito, onde é colocado em banho-maria por 15 min, à 40°C, para coletar o leite cru em capilares (o mesmo usado para micro hematócrito) também em triplicada. Depois, centrifugamos os capilares em microcentrífugas por 15 min, à 10.000 rpm, para leitura em microscópio da separação do soro e da gordura do leite. A leitura se refere a coluna total (soro e gordura) e coluna de creme (gordura) para daí, ser calculada a caloria referente a cada leite. Existe uma fórmula para o cálculo, porém atualmente é utilizado um software para o cálculo de cada amostra.

Logo após essa etapa (seleção e classificação e reenvase) o leite será pasteurizado, e a pasteurização consiste em colocar todos os frascos com leite aprovados em banho-maria à 62,5°C por 30 minutos após o tempo de pré-aquecimento. É desejado nesse processo fazer a inativação de 100% dos micro-organismos patogênicos e 99,9% da microbiota. Após o término, o leite pasteurizado é resfriado no qual fica em uma temperatura igual ou superior a 5°C para onde realizará o controle de qualidade através de aspectos microbiológicos utilizando o meio BGBL (caldo verde brilhante) uma amostra de 4 mL do leite pasteurizado é coletado em tubo com o meio.

O tubo com a amostra de leite fica na estufa à 37°C por 48h para ver se produz gás dentro de tubo de Durham no meio de caldo verde brilhante à 5%, em caso da não presença de gás em 48h, o leite é aprovado. Em caso de presença é feito o teste confirmatório por mais 48h em meio mais concentrado utilizando o BGBL à 4%, na presença de gás, o leite é reprovado. Enquanto isso, o frasco será estocado em freezer próprio de quarentena. Após ser aprovado o mesmo irá para o freezer de estocagem (podendo permanecer por até 6 meses após a pasteurização) e estará liberado para a distribuição aos receptores.

Texto da Biomédica Ana H. N. Beserra, CRBM 17.222

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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