Infecções do trato urinário

Por Brunno Câmara - segunda-feira, dezembro 19, 2016

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Infecções do Trato Urinário

As infecções do trato urinário (ITU) estão entre as doenças infecciosas mais comuns na prática clínica, particularmente em crianças e adultos do sexo feminino, sendo apenas menos frequentes que as do trato respiratório. Elas representam cerca de 30 a 50% das infecções adquiridas em hospitais gerais.

Existem três possibilidades de um micro-organismo alcançar o trato urinário e causar infecção: através das vias ascendente, hematogênica e linfática.

Pela via ascendente, o micro-organismo poderá atingir através da uretra, a bexiga, ureter e o rim. Essa via é a mais frequente, principalmente em mulheres (pela menor extensão da uretra) e em pacientes submetidos à instrumentação do trato urinário.

A via hematogênica ocorre devido a intensa vascularização do rim podendo o mesmo ser comprometido em qualquer infecção sistêmica; é a via de eleição para ITU por alguns micro-organismos como Staphylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis, sendo também a principal via das ITU em neonatos.

A via linfática é rara embora haja a possibilidade de micro-organismos alcançarem o rim pelas conexões linfáticas entre o intestino e o rim e/ou entre o trato urinário inferior e superior.

De acordo com os órgãos acometidos, as ITUs são classificadas em:

Altas – que envolvem o parênquima renal (pielonefrite) ou ureteres (ureterites).

Baixas – que envolvem a bexiga (cistite) a uretra (uretrite), e nos homens, a próstata (prostatite) e o epidídimo (epididimite).

Trato Urinário

Bacteriúria

A urocultura é considerado o exame padrão-ouro no diagnóstico laboratorial das ITU.

A investigação microbiológica de suspeita da infecção urinária pela urocultura permite identificar dois grupos de pacientes com bacteriúria ≥ 100.000 Unidades Formadoras de Colônias (U.F.C.) por mL de urina: sintomáticos (com infecção urinária) e assintomáticos e (portadores de bacteriúria assintomática).

A infecção do trato urinário assintomática é a identificação de uma determinada contagem de bactérias, em urina colhida de forma apropriada, de um indivíduo sem sinais ou sintomas de infecção urinária.

Geralmente, é utilizado o critério do crescimento ≥ 105 UFC/mL em 2 amostras de urina colhidas em um intervalo superior a 24 horas. Considerando esse valor de corte, a bacteriúria é confirmada em urina colhida através de sondagem em > 95% dos casos; quando a quantificação é menor, normalmente não há confirmação.

Um grupo importante identificado com bacteriúria assintomática que merece seguimento são as grávidas, uma vez que possuem um risco de 20 a 30 vezes maior em desenvolverem pielonefrite durante a gestação, probabilidade maior de parto prematuro e recém-nascidos de baixo peso. Nessas pacientes a recomendação do uso de antibiótico terapia é indicada, porém o mesmo não ocorre em diabéticos, indivíduos institucionalizadas e com cateteres vesicais.

Evolução

Episódio único ou isolado: ocorre uma única vez e resolve habitualmente pelo uso de antibióticos. Um segundo episódio isolado pode ocorrer sem relação temporal com o anterior. Entre 10 a 20% das mulheres irão apresentar no decorrer da vida pelo menos um episódio de infecção urinária.

Recidiva: por falha no tratamento, o mesmo micro-organismo isolado previamente persiste no trato urinário, causando infecção ou bacteriúria assintomática. A persistência do mesmo micro-organismo por meses ou anos, leva a infecção urinária crônica.

Reinfecção: é a ocorrência de um novo episódio de ITU, sem relação com o evento anterior, causado por outro micro-organismo, exceto que pela origem e frequência do agente etiológico que coloniza a região perineal, pode ser atribuída à mesma espécie bacteriana (Ex.: E. coli). Episódios repetidos de reinfecção não devem ser confundidos com infecção urinária crônica.

ITU crônica: representa a persistência do mesmo micro-organismo por meses ou anos com recidivas após tratamento, no caso de pielonefrite crônica, há associação com comprometimento da pelve e parênquima renal.

ITU recorrente: ocasionalmente, a recorrência é pela persistência do mesmo agente (recidiva), mas em cerca de 90% dos episódios ocorre por reinfecção, com meses de intervalo entre eles. Cerca de 20% das jovens após o episódio inicial de cistite tem infecções recorrentes, que caracterizam bem esse grupo. Dois ou mais episódios no período de 6 meses ou três ou mais no período de um ano definem as infecções recorrentes na mulher. Nos homens, a ITU recorrente é definida quando ocorrem dois ou mais episódios de ITU em um período de até 3 anos, lembrando a frequente associação com prostatite bacteriana crônica, nos pacientes sem fatores predisponentes.

Manifestações clínicas

Tipo de infecção Manifestação clínica Micro-organismo isolado Diagnóstico e contagem de UFC/mL
Pielonefrite

Aguda: febre, náusea
calafrios, vômito, dor no flanco

Crônica: assintomática

Enterobactérias como E . coli e outros Gram-
negativos, Enterococcus spp.,
Staphylococcus aureus

≥ 105
Cistite

Disúria e aumento da frequência urinária

Escherichia coli
Outros Gram Negativos
S. saprophyticus, Enterococcus spp.

≥ 105
Uretrite

Disúria, aumento da frequência urinária,
corrimento uretral

Chlamydia trachomatis
Mycoplasma hominis
Ureaplasma urealyticum
Neisseria gonorrhoeae
Trichomonas vaginalis
Candida albicans e spp.

-
Prostatite

Aguda: febre,
calafrios, dor lombar
Crônica: assintomática ou semelhante aos
sintomas da aguda

N. gonorrhoeae, E. coli, Proteus spp. e outras enterobactérias.
Menos frequente: Enterococcus spp.
P. aeruginosa e
Chlamydia trachomatis*

Urocultura ou cultura de secreção prostática
*diagnóstico por métodos moleculares

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Módulo 3: Principais Síndromes Infecciosas. Brasília: Anvisa, 2013.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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