Piso salarial nacional para o Biomédico

Por Brunno Câmara - terça-feira, agosto 30, 2022

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.


Quando entrei na biomedicina, em 2008, já se falava em um piso salarial nacional para o biomédico. Era um desejo antigo.

Várias foram as tentativas, sem sucesso, por meio de políticos, sugestões (Câmara dos Deputados) ou ideias (Senado) legislativas para elaboração de um projeto de Lei.

O assunto voltou à tona, recentemente, com a aprovação do piso salarial nacional para os profissionais da enfermagem.

Mas, será que ter um piso salarial nacional é vantajoso? Quais seriam as desvantagens? Muitos não param para analisar esse assunto a fundo, e ficam na superficialidade de apenas querer ganhar mais.

Por isso, resolvi trazer aqui para vocês uma análise crítica e impessoal de vários pontos importantes que devem ser levados em consideração.

Mas, antes...

Um aviso importante

Eu trabalho em prol da biomedicina desde que entrei no curso. Se tem uma pessoa que acha que o biomédico deveria ter uma remuneração melhor, sou eu.

Mas, ao analisar a situação, devemos tirar as emoções de lado e analisar racionalmente. 

O Brunno emocionado, coração, é a favor sim do piso salarial, com um valor mínimo digno a todos. 

Porém, o Brunno crítico e racional, cérebro, sabe que grandes consequências surgem ao se conseguir um piso salarial.

Apenas 12% da população brasileira têm proficiência em português, ou seja, consegue interpretar um texto simples e fazer inferências lógicas, ligando as informações, para construir um pensamento.

A grande parte da população, por não saber fazer isso, tende a levar as informações para o lado pessoal e envolver sentimentos e emoções. Por isso, qualquer tema de discussão gera um debate acalorado.

Então, que fique claro: o que será dito aqui não tem intenção de ofender ninguém. É apenas uma análise dos pontos positivos e negativos.

O que é um piso salarial

Em palavras simples, é o valor mínimo que uma categorial profissional pode receber para trabalhar.

Esse piso pode ser estabelecido a nível municipal, estadual ou nacional, por meio de convenções e acordos coletivos entre os sindicatos das categorias (empregados e empregadores) ou por meio de Lei.

Por exemplo, o salário mínimo é o piso do trabalhador brasileiro (independente da profissão), estabelecido por Lei.

Impactos de um piso salarial nacional

Quando empresas são obrigadas a pagar um valor mínimo, a uma categorial profissional, há impactos positivos e negativos.

Salário justo para todos

Sem nenhuma regulamentação, as empresas/instituições podem pagar o quanto quiserem para os profissionais. Teoricamente, estamos em um livre mercado.

Porém, isso pode gerar empregos com baixos salários tendo em vista o nível de escolaridade do profissional e as responsabilidades por ele assumidas.

Vemos, frequentemente, prefeituras abrindo vagas para profissionais de nível superior com salário medíocre de R$1.200,00 por 40 horas semanais.

Sem falar nas jornadas de trabalho exaustivas e, às vezes, sem o material básico para poder trabalhar com dignidade, cumprindo o código de ética profissional.

O piso salarial viria para equalizar esses salários, e garantir que todos não ganhassem menos que o justo pelo seu trabalho.

Demissões

Por outro lado, essa mesma obrigação de pagar o piso para todos, pode trazer sérios prejuízos financeiros para as empresas (de pequeno a grande porte) e mais despesas para o Ministério da Saúde.

Para não ficar no prejuízo, a tendência é que as empresas se adequem à nova realidade, demitindo funcionários e sobrecarregando os que ficarem, com as tarefas dos que saíram.

Substituição

Imagine no caso da biomedicina, que não tem nenhuma área de atuação exclusiva.

Após a aprovação de um piso salarial nacional, as empresas trocariam grande parte dos biomédicos por outros profissionais como farmacêuticos e biólogos.

"Por que pagar o piso, sendo que eu posso empregar um profissional cuja profissão ainda não o tem?", pensaria o dono de um laboratório.

E isso está acontecendo com a enfermagem. Basta fazer uma rápida pesquisa na internet para ver as notícias de demissões e fechamentos de leitos hospitalares.

Como uma empresa irá suportar um acréscimo de 60% na folha de pagamento? Redução de postos de trabalhos ou substituição de uma categorial profissional por outra, quando possível.

Serviços de saúde mais caros

Para poder se adequar a um piso salarial nacional, estabelecido por lei, as empresas terão que aumentar os valores cobrados por seus serviços.

Esse aumento, no final das contas, chegará no nosso bolso. Planos de saúde, exames, consultas, procedimentos etc., mais caros.

Mesmo no sistema público. Conforme estimativa do Ministério da Saúde, o aumento dos gastos ocasionados pela implementação do piso salarial da enfermagem poderá chegar a mais de R$ 20 bilhões ao ano.

Conclusão

Então, no fim do dia, a escolha será entre ter um piso salarial garantido ou ter onde trabalhar. Infelizmente.

Olhando pelo meu lado profissional, seria muito bom se o biomédico tivesse um piso nacional garantido. Isso corrigiria muitas injustiças.

Porém, o mercado não reagiria amistosamente com essa obrigação e os impactos negativos seriam evidentes.

De novo. Este texto vai além do que eu gostaria que acontecesse. É uma análise crítica das consequências. Não leve para o lado pessoal.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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