Descoberta bactéria que consome o neurotransmissor GABA

Por Brunno Câmara - quarta-feira, julho 13, 2016

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Bactéria GABA

Sabemos que nosso corpo é colonizado por incontáveis bactérias, que compõem a microbiota normal. A maioria dessas bactérias reside em nosso trato gastrointestinal (TGI).

Estima-se que existam no TGI cerca de 100 trilhões de células bacterianas, de 500 espécies diferentes. Dessas, apenas metade pode ser cultivada em laboratório.

Dado esses números, não é surpresa que esses micro-organismos estejam envolvidos em quase todas as desordens humanas, incluindo obesidade, câncer e aterosclerose.

Pesquisadores da Northeastern University, EUA, conseguiram isolar uma nova espécie de bactéria do TGI que não tinha sido isolada antes, chamada de Flavonifractor sp. (KLE1738). Os resultados da pesquisa foram anunciados na reunião anual da American Society for Microbiology, em Boston, em junho de 2016.

Eles descobriram também que essa bactéria depende do fator de crescimento ácido gama-aminobutírico (GABA) para sobreviver.

O GABA é o principal neurotransmissor inibidor do sistema nervoso central de mamíferos, e seus níveis diminuídos estão associados a depressão e ansiedade.

A pesquisa

Muitos membros do microbioma intestinal são capazes de produzir grandes quantidades de GABA.

Pesquisas anteriores mostraram que muitas bactérias que não eram cultivadas in vitro dependiam de fatores de crescimento produzidos por outras bactérias vizinhas.

Sabendo disso, o grupo usou uma técnica de co-cultivo para o crescimento dessas bactérias de amostras fecais humanas.

A espécie Flavonifractor sp. necessitava da presença de outras bactérias como Bacteroides fragilis e Dorea longicatena para seu crescimento.

Após o isolamento do sobrenadante de B. fragilis, o neurotransmissor GABA foi identificado como o fator de crescimento para Flavonifractor sp.

Outro resultado interessante foi que, após a análise genômica de Flavonifractor sp. e o achado de que seu mapa metabólico é focado no consumo de um único nutriente, GABA, os pesquisadores utilizaram a nova espécie como um teste e descobriram que várias bactérias intestinais são produtoras de GABA.

Além disso, o grupo modificou a espécie E. coli Nissle 1917, utilizada em todo o mundo como probiótico, para produzir GABA. Modulando os níveis desse neurotransmissor, eles acham que é possível desenvolver terapias baseadas no microbioma para tratar desordens mentais.

As perguntas que eles vão tentar responder agora são:

  • Essas bactérias influenciam no humor/comportamento?
  • Quais bactérias (e metabólitos bacterianos) estão associadas à depressão e ansiedade?
  • É possível achar bactérias antidepressivas e ansiolíticas, para usar como medicamentos?

Fonte: northeastern.edu | Imagem: Centers for Disease Control and Prevention

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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