Setor de saúde investe em equipamentos, mas falta investimento nos profissionais
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Reclamar da falta de mão de obra especializada virou lugar comum em qualquer setor da economia brasileira. Na saúde, não é diferente. E para piorar, as perspectivas, segundo analistas de mercado, não são animadoras. O lado bom da história é que se você é um profissional realmente qualificado, o mercado vai querer te acolher, te mimar e, até mesmo, aceitar suas exigências para trazê-lo ou mantê-lo na corporação.
“Antes, os avançados equipamentos de um centro médico é que eram os diferenciais, mas hoje com as condições favoráveis de financiamento, está mais fácil comprar. O problema é que os aparelhos ficam encaixotados. Por quê? Porque não tem ninguém que saiba operar”, opina o vice-coordenador da Pesquisa em Regulamentação Econômica e Estratégias Empresariais da PUC/SP, Eduardo Perillo. O especialista critica a mentalidade de investimento desta indústria. Segundo ele, o setor de saúde só sabe investir em tijolo e equipamento.
Investir em capital humano é o que pode fazer a diferença, na visão de Perillo. “As pessoas detêm o conhecimento, a capacidade de inovar e empreender em uma organização. Investir em gente pode dar retorno, e muito, desde que se tenha gente de qualidade e, obviamente, isso pressupõe em primeiro lugar dar-lhes educação”, diz.
De acordo com o especialista, um estudo publicado em 2004, realizado junto a um hospital que ofereceu cerca de 300 treinamentos ao seu quadro de pessoal durante um ano, apontou que o investimento anual por funcionário verificado foi de R$ 27,41. “Se trouxermos a valores atuais, estamos falando de cerca de R$ 50,00 por cabeça. Não dá para esperarmos grandes resultados com um investimento desses”, pondera Perillo.
A culpa é da universidade?
À frente da coordenação geral de pós-graduação do Centro Universitário São Camilo, Clóvis Castelo Junior não hesita em afirmar que as faculdades da área de saúde não ensinam o que o mercado está buscando. “A formação não atende às necessidades das organizações com alto padrão de excelência. Existe um gap considerável do que estamos entregando para o mercado e do que o mercado busca”, opina.
Para ele, as “moscas brancas” do setor de saúde são profissionais que trabalham com tecnologia, principalmente com robótica, além de engenheiros e técnicos clínicos. “Precisamos quebrar a dicotomia entre teoria e prática e aproximar as instituições de saúde das instituições educacionais”, sugere o professor. Perillo, da PUC/SP, provoca ao dizer que vê profissionais chegando ao mercado dizendo que estão formados, mas que ele os considera, na realidade, “deformados”.