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Aproximadamente 98% dos recém-nascidos (RNs), fisiologicamente, têm níveis séricos de bilirrubina total (BT) acima de 1 mg/dL durante a primeira semana de vida. Desses, cerca de 60% desenvolvem icterícia com BT maior que 5 mg/dL.
Mas porquê é tão comum RNs saudáveis apresentarem essa característica?
Um dos motivos é o menor tempo de vida dos eritrócitos, que no RN varia entre 70 e 90 dias (120 dias no adulto) e a maior quantidade de hemoglobina. Sendo assim, é produzida de duas a três vezes mais bilirrubina indireta (BI), causando sobrecarga ao hepatócito.
O catabolismo de 1 g de hemoglobina fornece 34 mg de bilirrubina. Então, no RN são produzidas entre 8 e 10 mg/Kg de bilirrubina; 75% são de origem eritrocitária e os outros 25% são provenientes do heme livre, das proteínas hepáticas e da destruição de eritroblastos.
Outra causa dessa elevação de bilirrubina na circulação entero-hepática do RN é a escassez da microbiota intestinal e a atividade aumentada da enzima beta-glicuronidase na mucosa intestinal.
A conversão de mono e diglicuronídeos de bilirrubina em urobilinogênio é diminuída devido à pequena quantidade de bactérias intestinais, fazendo com que os glicuronídeos fiquem suscetíveis à desconjugação pela beta-glicuronidase. O reflexo disso é a entrada de BI pela circulação entero-hepática e consequente sobrecarga ao hepatócito.
Além disso, a deficiência de ligandina, principal proteína transportadora de bilirrubina dentro do hepatócito, leva à captação hepática limitada de bilirrubina.
Evolução
A hiperbilirrubinemia fisiológica em RNs é caracterizada por níveis séricos de BT aumentados após o nascimento, atingindo um pico médio de aproximadamente 6 mg/dL e declínio em uma semana, sem que o valor máximo ultrapasse 12,9 mg/dL.
Quando a icterícia está presente antes de 24 horas de vida e valores de BT estão acima de 12 mg/dL é um alerta para um processo patológico.
Cecilia Maria Draque. Icterícia neonatal. Especialização em Saúde da Família. UNA-SUS/UNIFESP.