5 dicas de como liberar um laudo com resultado alterado

Por Brunno Câmara - terça-feira, setembro 18, 2018

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

Quem trabalha com análises clínicas com certeza já se deparou com uma situação em que o resultado do paciente está muito alterado.

Se você está começando agora e ainda não tem experiência nessas situações, vou deixar aqui algumas dicas e sugestões de o que fazer nesses casos.

Possíveis situações

Podemos nos deparar com duas situações:

  1. Temos todas as informações e histórico médico e laboratorial do paciente;
  2. A única informação que temos disponível é o pedido médico, com poucos dados sobre o paciente e a amostra que foi coletada.

Se você está na situação 1 é mais fácil para liberar o laudo do exame. Olhe no histórico do paciente e veja se os exames anteriores possuem a mesma alteração.

Se você estiver num laboratório hospitalar, é possível até ver qual a patologia do paciente, procedimentos aos quais ele foi submetido, resultados de anatomopatológico, entre outras informações.

Sabendo disso, você pode relacionar o resultado atual com os anteriores e liberar o laudo com confiança.

Agora, se o resultado atual é discrepante com os anteriores, é necessário fazer uma investigação mais detalhada. O mesmo ocorre quando você está na situação 2, com poucas informações sobre o paciente.

Confira o que fazer:

1 - Confirme se a amostra é realmente do paciente

Sabemos que a maior parte dos erros acontece na fase pré-analítica, então sempre temos que desconfiar de uma etiqueta colada errada, ou se a amostra foi coletada do paciente certo.

Deve-se ainda verificar se a amostra foi coletada no tubo certo e na proporção certa. Caso contrário, a amostra pode ficar diluída ou concentrada, e o resultado não será fidedigno.

Esses erros devem ser evitados a todo custo, por isso ter uma equipe de coleta bem treinada é crucial.

2 - Verifique a calibração do aparelho, reagentes e controles internos

Após excluir um possível erro de coleta, temos que procurar por possíveis erros na fase analítica.

Como atualmente a maioria dos laboratórios trabalha com automação, temos que ter certeza que os aparelhos estão funcionando adequadamente.

Para isso, temos que passar e verificar os controles internos, e sempre que necessário calibrar novamente o aparelho.

Outro item importante são os reagentes. Verifique se ainda estão na validade, se foram armazenados no local adequado e se a quantidade no aparelho é suficiente para fazer os testes.

Às vezes, um erro aleatório como uma bolha que entra no sistema, pode causar um resultado anormal, mas com a repetição do exame com a mesma amostra o resultado se normaliza. Por via das dúvidas, se for viável, passe uma terceira vez para garantir.

3 - Converse com o médico

Se você estiver num laboratório hospitalar, pode ir até a clínica em que o paciente está internado e conversar com o médico atendente e ver se aquele resultado é esperado, ou se o paciente passou por algum procedimento recentemente, como por exemplo receber transfusão sanguínea.

Se você trabalhar num laboratório particular também é possível entrar em contato com o médico solicitante e conversar sobre o paciente.

4 - Ligue para o paciente*

Se você tem acesso ao telefone do paciente, entre em contato e faça algumas perguntas, como que tipo de medicamento ele usa, por que o médico solicitou aquele exame, etc.

Muitas vezes, quando eu ia conferir exames de hemostasia e ficava com dúvida, ligava para o paciente e perguntava se ele estava usando algum anticoagulante oral ou tinha algum problema hepático, por exemplo. E, na maioria das vezes, a resposta era sim. Isso me dava confiança em liberar um TTPa alterado, por exemplo.

Nesses casos, geralmente, o paciente até já sabe que vai dar alterado, pois se for um exame que ele faz com frequência terá familiaridade com os resultados.

*Em alguns casos, ligar para o paciente não é uma boa opção, como por exemplo se for um resultado de sorologia para HIV ou HCV. O laboratório deve seguir os protocolos estabelecidos internamente ou pela legislação vigente.

5 - Peça uma nova coleta

Se nenhuma das opções resolveu o problema, o pedido de recoleta é uma opção.

Peça para o paciente comparecer ao laboratório, se possível acompanhe a coleta de perto e aproveite para conversar com ele.

Se o resultado continuar alterado, libere o laudo informando que você repetiu o exame, inclusive numa segunda amostra.

Conclusão

Se você fez tudo isso, poderá liberar o laudo sabendo que as chances são grandes de ser uma alteração do paciente e não um erro do laboratório.

Existem várias formas de você liberar um laudo com confiança. NUNCA libere um resultado se você tem alguma dúvida ou que não sabe explicar.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao | WhatsApp |