Pesquisadores infectam voluntários com Schistosoma mansoni

Por Brunno Câmara - quarta-feira, fevereiro 28, 2018

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Pesquisadores do Leiden University Medical Center, Holanda, estão desenvolvendo uma pesquisa em que pessoas voluntárias são infectadas pelo parasito Schistosoma mansoni.

Até o momento, não há vacina contra para a doença, e apenas um velho medicamento inadequado, praziquantel, está disponível para o tratamento.

A cientista Meta Roestenberg está liderando esse experimento controverso. Infectar humanos com o parasito poderia ajudar a acelerar o desenvolvimento de novos tratamentos e vacinas.

O Experimento

O time de pesquisadores vem cultivando macho e fêmea de S. mansoni em hamsters. Após sua maturação, os ovos são colhidos e usados para infectar caramujos.

Após as cercárias (larvas) se desenvolverem, eles escolhem apenas machos para infectar os voluntários da pesquisa. São utilizadas 20 cercárias por indivíduo.
 

Então, um pequeno cilindro de metal, com alguns centímetros de diâmetro, é colocado sobre o braço da pessoa. Cuidadosamente, o pesquisador pipeta algumas gotas de água contendo exatamente as 20 cercárias no cilindro.

Após 30 minutos, a água infectada é removida do braço, e pontos vermelhos na pele indicam onde as cercárias penetraram.

Se algum dos participantes da pesquisa tiver alguma reação alérgica grave, eles já estão preparados com epinefrina, anti-histamínicos e corticosteroides. Até agora, nenhum dos 13 voluntários teve reação alérgica, apesar de que um deles foi infectado com 30 larvas e desenvolveu uma forte febre.

Após 12 semanas, o estudo acabará e os indivíduos receberão praziquantel para eliminar o parasito. Cada voluntário receberá 1.000 Euros pela sua participação na pesquisa.

Acompanhamento

Uma vez infectados, os participantes retornarão ao laboratório semanalmente para que seja coletada uma amostra de sangue para pesquisar uma molécula chamada CAA, regurgitada pelo S. mansoni.
A presença de CAA indicará que o parasito ainda está vivo. Em estudos futuros, a ausência da molécula poderá indicar que a vacina ou droga funcionou.

Os riscos e benefícios

Estudos sobre malária, cólera e gripe, em que pessoas são infectadas de propósito, estão em alta atualmente. Essa é a primeira vez que isso é feito com o S. mansoni, devido aos danos provocados pelos ovos no organismo.

Na natureza, as pessoas infectam-se com machos e fêmeas, porém a pesquisadora usa apenas os machos, então não haverá produção de ovos e, consequentemente, o paciente não terá manifestações clínicas da doença.

A esperança é que, com esse modelo, seja possível acelerar o desenvolvimento de vacinas candidatas para a doença.

Pesquisadores da Uganda estão interessados em estabelecer esse modelo de experimento lá. Os comitês de ética estão dispostos a discutir sobre o assunto e até membros da comunidade já se voluntariaram para participar dos estudos.

Kupferschmidt, Kai. (2018). Seventeen volunteers let this worm live inside them to help defeat a dangerous disease. Science. 10.1126/science.aat3864.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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