Entrevista sobre atuação do Analista Clínico no Canadá com Maria Roussakis

Por Brunno Câmara - quarta-feira, novembro 13, 2019

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.


Muitas pessoas têm interesse de saber como é a Biomedicina no Canadá. Já falei aqui como atuar como analista clínico e como é o processo de validação de diploma para estrangeiros.

Como estou morando temporariamente em Montréal, Québec, CA, tive a ideia de entrevistar a analista clínica Maria Roussakis para saber mais detalhes sobre a profissão.

Maria Roussakis é graduada pelo programa Medical Laboratory Science da University of Ontario Institute of Technology (UOIT) localizado em Oshawa, Ontario. Atualmente trabalha como analista clínica e está fazendo mestrado em Educação em Ciências da Saúde pela McMaster University.

Lembrando que, no Canadá, o equivalente ao Analista Clínico é o Medical Laboratory Technologist.

A seguir você terá a opção de ler a entrevista em português e inglês.

Português / Portuguese (tradução)

Como se tornar um analista clínico no Canadá?

Maria Roussakis: O primeiro passo é completar a graduação em um programa credenciado. Então, você deve passar no exame nacional de certificação da Canadian Society of Medical Laboratory Science (CSMLS). Na província de Québec o exame não é exigido. Após ser aprovado no exame, é necessário registrar-se na faculdade da sua província para poder atuar. Por exemplo, para trabalhar na província de Ontário você deve se registrar no College of Medical Laboratory Technologists of Ontario (CMLTO).

Onde um analista clínico pode atuar no Canadá?

Maria Roussakis: Considerando que você foi aprovado no exame da CSMLS, um analista clínico pode trabalhar em qualquer parte do Canadá, mas tem que se registrar na faculdade apropriada da região. Em relação a locais de trabalho, podemos trabalhar em hospitais, laboratórios públicos e privados, além de poder atuar no âmbito educacional, dando aula para os futuros analistas clínicos.

Em quais áreas um analista clínico no Canadá pode trabalhar? Em quais você trabalha?

Maria Roussakis: Um analista clínico generalista pode trabalhar com química clínica (no Brasil, bioquímica), hematologia, microbiologia, histologia e medicina transfusional. Há também dois programas para as subáreas de genética e citotecnologia. Eu particularmente trabalho com química clínica, hematologia e medicina transfusional.

A profissão é regulamentada por algum órgão do Canadá?

Maria Roussakis: A CSMLS é o órgão nacional de certificação (excluindo o Québec), mas cada faculdade provincial é o órgão regulador para analistas clínicos.

Quanto um analista clínico ganha (por hora) e qual a carga horária?

Maria Roussakis: A remuneração depende da localidade e do tipo de empregador (hospital, laboratório privado, laboratório público). Hospitais geralmente são os que pagam mais. A média de remuneração fica em torno de $30 dólares por hora (cerca de $4.800/mês), de acordo com alguns websites. Além disso, a carga horária pode ser em tempo integral (geralmente 40 horas por semana), meio período ou casual. Nem sempre os empregos de meio período ou casuais são garantidos, por isso muitas pessoas podem trabalhar em dois locais diferentes.

Você acha que é difícil conseguir emprego como analista clínico no Canadá?

Maria Roussakis: Não é difícil conseguir emprego. Há muitas vagas de emprego disponíveis e não há a quantidade de graduados suficiente para preencher a necessidade. Há alguns profissionais que escolhem mudar para outras províncias para conseguir um emprego.

No Canadá, o analista clínico pode trabalhar como pesquisador?

Maria Roussakis: Podem sim. Eu acho que temos muitas habilidades e experiência que fazem com que sejamos valiosos na pesquisa científica.

O que você acha sobre a automação no laboratório? Você tem a impressão que as máquinas e inteligência artificial estão substituindo os profissionais de laboratório?

Maria Roussakis: Há uma grande quantidade de automação nos laboratórios clínicos canadenses. Isso pode ser muito benéfico e útil se estiver funcionando adequadamente. Muitas vezes o equipamento não funciona direito e atrapalha o fluxo de trabalho no laboratório. Apesar de o número de analistas clínicos ter diminuído nos últimos anos por causa do aumento da automação, não vejo um momento em que os profissionais serão totalmente substituídos. Analistas clínicos são os responsáveis pela liberação dos resultados. Além disso, muitos operam os instrumentos automatizados e têm uma visão valiosa de sua complexidade.

Você considera que os analistas clínicos são valorizados por outros profissionais da saúde, como médicos, e pela sociedade canadense?

Maria Roussakis: Eu acho que pode ser difícil para outros profissionais da saúde entenderem todas as atribuições do analista clínico, já que não é uma profissão exatamente visível. Além disso, há muitos prejulgamentos negativos sobre o laboratório, devido a como somos rígidos em cancelar exames e o tempo que demoramos para liberar resultados, por exemplo. Com isso, muitos começam a acreditar que os analistas clínicos não se importam com os pacientes, mesmo a gente tendo regras rígidas para assegurar que o paciente receba o diagnóstico/tratamento corretamente. Porém, eu também já tive muitos encontros positivos com profissionais da saúde que precisavam de ajuda, não sabiam como solicitar um exame, que tipo de amostra seria necessária para o paciente, e por aí vai. Já teve caso de enfermeiras me agradecerem por eu tirar um tempo e explicá-las a diferença entre tipagem sanguínea, triagem e prova cruzada.

Inglês / English (original)

How can someone become a Medical Laboratory Technologist (MLT) in Canada?

Maria Roussakis: The first step to becoming an MLT in Canada is to graduate from an accredited program (see Appendix 1). Then, you must pass the Canadian Society of Medical Laboratory Science (CSMLS) national certification exam (except in Quebec, they do not require the exam). After you have passed the exam, you need to register with your provincial college in order to practice. For example, to work in Ontario, you must register with the College of Medical Laboratory Technologists of Ontario (CMLTO).

Where can a MLT can work in Canada?

Maria Roussakis: Considering they have passed the CSMLS exam, an MLT can work anywhere in Canada, but also registering with the appropriate regulatory college. In regard to workplaces, MLTs can work in hospital, private, and public health laboratories. They can also work in educational settings to teach future MLTs.

What are the disciplines an MLT can work with? Which ones do you work with?

Maria Roussakis: A General MLT designation allows you to work in clinical chemistry, hematology, microbiology, histology, and transfusion medicine. There are also two other subspecialty MLT programs, such as genetics and cytotechnology. I personally work in chemistry, hematology, and transfusion medicine.

Is the profession regulated in Canada by some certifying body?

Maria Roussakis: CSMLS is the national certifying body (excluding Quebec) for MLTs in Canada, however, each provincial college is the regulatory body for MLTs.

What is the median hourly wage and how much weekly hours a MLT work?

Maria Roussakis: The hourly wage differs between location and type of employer (hospital, private lab, public health lab). Hospitals are typically the highest paid employer. The median hourly wage falls close to $30/hour (according to some websites). In addition, MLT positions are either full-time (typically a 40-hour week), part-time, and casual. Part-time and casual hours are not always guaranteed, which is why many people may work two part-time and/or casual jobs.

Is it difficult to get a job as MLT in Canada?

Maria Roussakis: It is not difficult to get a job as an MLT in Canada. There are many MLT jobs available and not enough graduates to fill the need. There are some medical laboratory graduates who choose to move to other provinces in order to get a job.

In Brazil, after completing our 4-year Bachelor degree in Biomedical Science we can work in a variety of specialties, including scientific research. Are MLTs allowed to work as a scientific researcher in Canada as well?

Maria Roussakis: MLTs are definitely allowed to work as scientific researchers. I think there are many laboratory skills and experience that make MLTs valuable in research.

What do you think about automation in the laboratory? Do you feel like machines and artificial intelligence are replacing lab professionals?

Maria Roussakis: There is a large amount of automation in Canadian medical laboratories. It can be very beneficial and helpful if it is working properly. There are many times that equipment malfunctions and impedes on the workflow of the lab, and service is required. Although the number of MLTs have decreased over the years due to increased automation, I do not see a time in the near future in which MLTs will be replaced. MLTs are the laboratory professionals authorized to release results (unlike medical laboratory assistants). In addition, many MLTs are key operators of the automated instruments they work on and have valuable insight into the complex workings of the instruments.

Do you consider that MLTs are valued by other health care professionals, such as doctors, and the Canadian society?

Maria Roussakis: I think it can be hard for some healthcare professionals to understand the full scope of the work MLTs do, as they are not exactly a visible profession. In addition, there are a lot of negative preconceptions that some may think about the laboratory, due to how strict we are in cancelling tests and the length of time it takes to result samples, to name a few. With these negative preconceptions, many may start to believe that MLTs do not care about patients, even though we have these strict rules in place to ensure the patient gets diagnosed/treated correctly. However, I have also had many positive encounters with healthcare professionals who need assistance, are not sure how to order a test, if a sample is required for a patient, and so on. I have even had nurses thank me for taking the time to explain the difference between a type and screen and crossmatch!

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao |