O que é Macrotroponina

Por Brunno Câmara - quarta-feira, julho 19, 2023

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A dosagem sérica dos níveis de troponina cardíaca (cTn) é uma ferramenta importante na investigação de dor torácica, quando há uma suspeita de etiologia cardíaca.

A troponina cardíaca I (cTnI) possui elevada especificidade e sensibilidade para o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio.

Porém, outras causas de dano miocárdico podem elevar a cTnI.

Um interferente na dosagem desse analito é a presença da chamada macrotroponina, que provoca um resultado elevado persistente dos níveis de cTnI.

O que é a macrotroponina

A macrotroponina é um grande complexo formado por moléculas de cTnI ligadas a autoanticorpos IgG.

Esses complexos possuem depuração sérica mais lenta quando comparados às moléculas normais de cTnI.

Na população em geral, a prevalência desses autoanticorpos contra troponinas cardíacas fica próxima de 10%. Similar ao que ocorre com os autoanticorpos da tireoide (anti-TPO e anti-Tg).

A origem desses autoanticorpos ainda não é conhecida. Mas algumas hipóteses já foram propostas:

  • Mimetismo molecular de antígenos ambientais ou de micro-organismos
  • Imunização pela cTnI liberada durante um dano miocárdico
  • Homologia pela troponina I esquelética liberada no dano muscular

O problema da macrotroponina

As cTn são dosadas por imunoensaios, como a quimioluminescência, em que anticorpos anti-cTn (do kit reagente) ligam-se às moléculas de cTn presentes na amostra do paciente.

Por ter uma meia-vida mais longa, a macrotroponina pode interferir nos resultados de troponina cardíaca sérica, já que os testes laboratoriais não conseguem distinguir entre os dois.


O resultado é uma elevação crônica de cTnI inconsistente com o quadro clínico do paciente.

Mecanismos semelhantes já foram descritos para a observação de elevação persistente de outros analitos como a macroprolactina e a macroamilase.

Elevações falsas são um problema até mesmo nos testes de cTnI de alta sensibilidade (hs-cTnI).

O que fazer na suspeita de macrotroponina

O principal indicativo da presença de macrotroponina é um paciente com cTnI persistentemente elevada mesmo sem manifestações compatíveis ou após a investigação clínico-diagnóstica não apresentar outras alterações.

Outras causas cardíacas e não cardíacas de aumento de troponina devem ser excluídas.

A presença de interferentes analíticos também deve ser investigada pelo laboratório, como anticorpos heterófilos, anticorpos humanos anti-animal, fator reumatoide e filetes de fibrina.

Para confirmar a presença de macrotroponina, cTnI e IgG podem ser dosados antes e depois do tratamento da amostra com proteína A, proteína G ou antissoro com IgG anti-humano. 

É possível também fazer a precipitação de imunoglobulinas usando o polietilenoglicol (PEG).

Esse tratamento faz a depleção de imunoglobulinas da amostra, deixando assim as moléculas de cTnI livres. Porém, é um processo laborioso.

Uma abordagem mais simples seria analisar a amostra numa plataforma diagnóstica diferente (outras marcas e reagentes).

Outra alternativa seria o acompanhamento do paciente com dosagens seriadas de CK-MB ou troponina cardíaca T (cTnT).

Os casos de macrotroponina envolvendo a cTnT são menos prevalentes. 

Além disso não há evidências, até o momento, da ocorrência simultânea de macro-cTnT em pacientes com macro-cTnI.

Conclusão

A ocorrência de macrotroponina não é um evento comum. 

Uma elevação nos níveis de cTn deve sempre ser investigada a fundo antes de se suspeitar de macrotroponina.

Há casos em que a macrotroponina não está associada a nenhuma patologia ou histórico cardíaco, sendo apenas um interferente no ensaio analítico. 

Mas, é importante ressaltar que a presença de macrotroponina não exclui possíveis patologias cardíacas.

Referências

Harberg, Matthew R et al. “Persistent Elevation of Troponin I in a Pediatric Patient Resulting From Macrotroponin Complex.” Pediatrics vol. 151,3 (2023): e2022058374. doi:10.1542/peds.2022-058374

Lam, Leo et al. “Effect of macrotroponin on the utility of cardiac troponin I as a prognostic biomarker for long term total and cardiovascular disease mortality.” Pathology vol. 53,7 (2021): 860-866. doi:10.1016/j.pathol.2021.04.005

Wong, Sophia L et al. “Macrotroponin causing elevation in cardiac troponin I.” The Canadian journal of cardiology vol. 30,8 (2014): 956.e5-6. doi:10.1016/j.cjca.2014.03.037

Warner, Janet V, and George A Marshall. “High incidence of macrotroponin I with a high-sensitivity troponin I assay.” Clinical chemistry and laboratory medicine vol. 54,11 (2016): 1821-1829. doi:10.1515/cclm-2015-1276

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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