Implicações Laboratoriais do uso de Ozempic®

Por Brunno Câmara - quinta-feira, novembro 30, 2023

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.


Se você mora no planeta terra já ouviu falar do Ozempic®.

Ele é um medicamento desenvolvido para ajudar no controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus tipo 2.

Porém, esse medicamento se popularizou mundialmente por também conseguir ajudar na perda de peso, por meio da diminuição do apetite do paciente.

Vamos entender como o Ozempic® funciona e as possíveis alterações laboratoriais que podem ser desencadeadas pelo seu uso.

Princípio ativo do Ozempic®

Tanto o Ozempic® (injeção subcutânea) quanto o Rybelsus® (comprimido), da farmacêutica Novo Nordisk, têm como princípio ativo a semaglutida.

A semaglutida é um agonista do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1 = glucagon like peptide-1).

Com uma estrutura peptídica de 31 aminoácidos, a semaglutida tem 94% de homologia com a molécula de GLP-1 endógena do nosso organismo, o que evita a imunogenicidade.

Mecanismo de ação da semaglutida (GLP-1)

O GLP-1, e consequentemente a semaglutida, é um tipo de incretina

Incretina é um grupo de hormônios metabólicos que estimulam a diminuição da glicemia.

São liberadas após a ingestão de alimentos e estimulam a liberação de insulina pelas células beta do pâncreas. 

Algumas incretinas podem também inibir a secreção glucagon que é liberado pelas células alfa do pâncreas.

A semaglutida age por meio da ativação dos receptores de GLP-1 (GLP1R).

O GLP1R é um receptor acoplado à proteína G encontrado nas células beta do pâncreas e em neurônios do cérebro.

Então, a semaglutida reduz a glicemia por meio do estímulo da secreção de insulina e diminuição da secreção de glucagon.


Ambos mecanismos são dependentes da glicose. Ou seja, quando a glicemia aumenta, a secreção de insulina é estimulada e a de glucagon é inibida.

Adicionalmente, a diminuição da glicemia pela semaglutida envolve um pequeno atraso no esvaziamento gástrico no início da período pós-prandial (o que ajuda na perda de peso).

Alterações laboratoriais do Ozempic®

Nos estudos clínicos, foram observados alterações em dois marcadores bioquímicos.

Amilase e lipase

A semaglutida pode causar um aumento dos níveis séricos das enzimas pancreáticas amilase e lipase.

Houve um aumento basal de 13% nos níveis de amilase e 22% nos de lipase.

Adicionalmente, a pancreatite aguda é um efeito adverso do uso da semaglutida. E seu aparecimento é motivo para a descontinuação do tratamento.

Glicose

Além disso, se estiver em uso de sulfonilureia ou insulina exógena, o paciente pode apresentar um quadro de hipoglicemia (glicemia  ≤ 70 mg/dL).

Calcitonina

Em ratos e camundongos, a semaglutida causou um aumento da incidência de tumores de células C da tireoide, como o carcinoma medular de tireoide (CMT).

Porém, ainda não há relatos dessa associação em humanos.

A calcitonina sérica pode ser usada como marcador tumoral nos casos de CTM. Mas, não há recomendação para monitoramento de rotina com calcitonina em pacientes que usam a semaglutida.

Porém, se o paciente dosar a calcitonina sérica, e seus níveis estiverem acima de 50 pg/mL, pode ser um indicativo de CMT.

Função renal

Tem havido relatos de injúria renal aguda (doença renal < 7 dias) e piora no quadro de doença renal crônica em pacientes que usam semaglutida.

Definição de Injúria Renal Aguda:

  • Aumento de 50% de creatinina sérica dentro de 7 dias; ou
  • Aumento de 0,3 mg/dL da creatinina sérica dentro de 2 dias; ou
  • Oligúria por 6 horas ou mais

Recomenda-se avaliar a função renal de pacientes que apresentem reações adversas gastrointestinais como náusea, vômito e diarreia.

Conclusão

Devido sua crescente popularidade entre os que querem emagrecer, o Ozempic® está se tornando cada vez mais comum.

Consequentemente, a quantidade de pessoas em uso desse medicamento irá crescer também nos laboratórios.

Por isso, e para liberar o laudo com mais confiança, o analista clínico tem que estar ciente das possíveis alterações laboratoriais dentro desse grupo de indivíduos.

Referências

Lameire NH, Levin A, Kellum JA, et al. Harmonizing acute and chronic kidney disease definition and classification: report of a Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) Consensus Conference. Kidney Int. 2021;100(3):516-526. doi:10.1016/j.kint.2021.06.028

Bula do Ozempic (inglês) - Novo Nordisk. Acesso em 30/11/2023.

Mahapatra, M. K., Karuppasamy, M., & Sahoo, B. M. (2022). Semaglutide, a glucagon like peptide-1 receptor agonist with cardiovascular benefits for management of type 2 diabetes. Reviews in endocrine & metabolic disorders, 23(3), 521–539. https://doi.org/10.1007/s11154-021-09699-1

Marathe, C. S., Rayner, C. K., Jones, K. L., & Horowitz, M. (2013). Glucagon-like peptides 1 and 2 in health and disease: a review. Peptides, 44, 75–86. https://doi.org/10.1016/j.peptides.2013.01.014

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao |