Será que todo Hemograma é completo?

Por Brunno Câmara - domingo, julho 16, 2017

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

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Hemograma

O hemograma é um dos exames laboratoriais mais solicitados na prática médica. Ele contempla as contagens das células sanguíneas, a diferenciação dessas células e suas alterações morfológicas, a dosagem de hemoglobina e a determinação do hematócrito, além de outros parâmetros derivados, como o VCM, HCM, CHCM etc.

É muito comum ainda vermos a denominação HEMOGRAMA COMPLETO sendo utilizada na solicitação do exame, assim como na lista de exames realizados pelos laboratórios. Mas a dúvida que fica é: todo hemograma já não é completo?

Vamos analisar mais detalhadamente.

Para profissionais da saúde

Atualmente, quando solicita-se um hemograma, faz-se, obrigatoriamente, todas as análises listadas a seguir:

  • Eritrograma: contagem de hemácias, hemoglobina, hematócrito, VCM, HCM, CHCM e RDW;
  • Leucograma: contagem total de leucócitos e contagem diferencial de leucócitos;
  • Plaquetograma: contagem de plaquetas; às vezes VPM, plaquetócrito e PDW.

Além disso, qualquer alteração observada na microscopia da distensão sanguínea é relatada no laudo.

Para chegar no laudo final do hemograma, várias etapas são realizadas. Hoje em dia, a automação da realização do hemograma trouxe mais qualidade, confiabilidade e rapidez na sua execução, com alguns aparelhos liberando o resultado em um ou dois minutos, no máximo.

Hemograma completo com contagem de plaquetas?

Porém, num passado não tão distante, quando os aparelhos atuais não faziam parte da rotina laboratorial, o hemograma era feito manualmente. E com isso, um resultado poderia levar horas para ficar totalmente pronto.

Como muitas vezes o solicitante do hemograma não poderia esperar todo esse tempo para obter o resultado do exame, ele solicitava partes do hemograma, como por exemplo só as contagens de hemácias e leucócitos e dosagem de hemoglobina. Assim, o resultado sairia mais rápido e o paciente poderia receber um diagnóstico em menos tempo, o que é crucial para muitas situações, como uma infecção bacteriana, por exemplo.

Agora, quando o paciente não estava em situação de urgência/emergência, o profissional de saúde solicitava o hemograma completo, com todas as análises que citei acima.

Isso explicaria, em parte, por que essa cultura de ainda utilizar a denominação de hemograma completo.

Pesquisando em livros de hematologia e de técnicas laboratoriais, achei também a seguinte explicação:

“O hemograma consiste na contagem total de leucócitos, na contagem de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, índices hematimétricos  e contagem de plaquetas. Uma contagem sanguínea completa (hemograma completo) consiste no hemograma e na contagem diferencial dos leucócitos.”

A hemogram consists of a white blood cell count (WBC), red blood cell count (RBC), hemoglobin (Hb), hematocrit (Hct), red blood cell indices, and a platelet count. A complete blood count (CBC) consists of a hemogram plus a differential WBC.

Então, teoricamente, se você basear-se por essa definição, quando falar apenas hemograma significa que a contagem diferencial dos leucócitos não foi solicitada. Já quando você falar hemograma completo todas as análises são realizadas, inclusive a diferenciação dos leucócitos.

Para pacientes

Muitas pessoas leigas no assunto acabam interpretando a palavra “completo” como algo que seja capaz de diagnosticar várias alterações e doenças, de tal forma que, se o seu hemograma completo está normal, com todos os valores dentro da referência, significa que elas estão saudáveis.

Outras vão ao médico querendo fazer um “check up” e acham que o hemograma completo vai dar todas as informações sobre sua saúde, como a glicemia, perfil lipídico etc.

O hemograma analisa basicamente suas células sanguíneas. Para fazer a dosagem de outras substâncias do seu corpo, como glicose, hormônios, lipídios, o sangue que foi coletado é processado (separado) e utiliza-se a parte líquida, chamada de plasma (com anticoagulante) ou soro (sem anticoagulante).

Referências

Frances T Fischbach. A Manual of Laboratory and Diagnostic Tests, 7ª edição, 2003.

Renato Failace. Hemograma - Manual de Interpretação, 6ª edição, 2015.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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