Antígeno RhD: Du, D fraco, D parcial e testes laboratoriais

Por Brunno Câmara - terça-feira, julho 30, 2019

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Tire todas suas dúvidas em relação ao antígeno D do sistema sanguíneo Rh.


Sumário

  1. O antígeno RhD
  2. Fenótipo D negativo
  3. Fenótipos D variantes (D fraco [Du] e D parcial)
  4. Escolha dos soros reagentes anti-D
  5. Confirmação de um resultado negativo
  6. Interpretação
  7. Referências

1. O antígeno RhD

Foi o primeiro grupo sanguíneo clinicamente importante a ser descoberto após a identificação do grupo ABO.

A frequência do fenótipo D+ (positivo) é cerca de 85% em caucasianos, 95% na África Subsaariana e maior que 99,5% no leste asiático.



Apesar de a maioria das pessoas serem D+ ou D- (negativo), existe uma área cinzenta em que se encontram variações do antígeno D, conhecidos como fenótipos D fraco, D parcial e DEL.

2. O fenótipo D negativo

Geralmente, resulta da total ausência da proteína RhD da membrana da hemácia.

A causa mais frequente do fenótipo D- é a completa deleção do gene RHD em homozigose.

Existem ainda casos de deleção em apenas um dos genes (heterozigose) ou a formação de um gene híbrido da junção de RHD com gene RHCE. Em todos esses casos, a proteína D normal/funcional não é formada.

3. Fenótipos variantes do antígeno D

D fraco (antigo DU)

O D fraco é uma variante do RhD em que a expressão do antígeno D (quantidade) encontra-se diminuída na superfície das hemácias.

Pelo menos 147 tipos de D fraco são conhecidos até o momento. Dependendo do tipo de antígeno presente, o paciente será classificado como D+ ou D-.

Para os tipos 1, 2 e 3 recomenda-se que sejam considerados como RhD positivos. Para os outros tipos a recomendação é que sejam classificados como RhD negativos.


O termo DU foi inicialmente usado para denominar antígenos D de hemácias que não aglutinavam com anti-D IgM, mas reagiam com anti-D IgG no teste de antiglobulina.

Com os modernos soros anti-D monoclonais, que possuem ambos anti-D IgG e IgM, a maioria das hemácias que seriam anteriormente classificadas como DU agora são consideradas como fenótipo D+ nos testes de rotina.

Atualmente, o termo DU é o equivalente do fenótipo D fraco sorológico.


D= fenótipo D fraco sorológico

⚠ A recomendação é que os laboratórios utilizem a terminologia D fraco ao invés do termo DU.



D parcial

O fenótipo D parcial ocorre quando há substituição de um aminoácido em pelo menos uma das alças da região extracelular da proteína na membrana eritrocitária.

A maioria dos pacientes com fenótipo D parcial são considerado D+ pelos métodos sorológicos de rotina.

Os antígenos D parciais foram classificados em categorias (numerais romanos), que vão de DII a DVII. Posteriormente, após análises moleculares eles também são designados por nomes como DBT, DFR e DHAR.

Até o momento, 105 tipos de D parciais foram descritos. Desses, o mais comum é o DVI, sendo o mais provável de estar associado a formação de anti-D na população caucasiana.


O grande problema é que o DVI difere bastante do antígeno D normal. Se um paciente com DVI for classificado como D+, caso seja transfundido com hemácias D+, o organismo reconhecerá essas hemácias como estranhas e começará a produzir anti-D.

Então, muitos testes hoje em dia já são programados para não detectar o DVI e o paciente ser classificado como RhD-. Assim, o risco de uma aloimunização diminui.


4. Qual soro anti-D escolher?

Os reagentes monoclonais disponíveis atualmente são capazes de detectar vários epítopos de RhD. Existem outros que são um mistura de vários tipos de anticorpos monoclonais.

É importante estar atento que nenhum reagente será capaz de detectar todos os antígenos variantes. Sendo assim, o recomendado é a utilização de uma combinação de soros anti-D diferentes.

Não há um consenso em qual a melhor forma de detectar o antígeno D.

A recomendação é que se utilize dois reagentes:

  1. Um reagente que possui uma mistura de anticorpos monoclonais que detectem a maioria dos D fracos e D parciais;
  2. Um reagente monoclonal que não detecte a variante mais comum, ou seja, o DVI.

Atualmente, você pode encontrar cartões para tipagem em gel que incluem diversas variações para a tipagem RhD.


5. Confirmando um resultado RhD negativo

É importante lembrar que a investigação do RhD dependerá de sua finalidade. Geralmente, no laboratório clínico é feita apenas a confirmação do D fraco, nos casos em que o resultado inicial tenha dado negativo.

A reação será semelhante a de um coombs indireto, sendo que ao invés de colocar o plasma do paciente, será colocado o soro anti-D.

No caso de banco de sangue, a investigação deve ser mais detalhada, utilizando vários reagentes diferentes, para evitar ao máximo uma possível aloimunização.

Técnica em tubo

  1. Prepare uma suspensão salina (2 - 5%) das hemácias a serem testadas (paciente);
  2. Colocar uma gota do soro anti-D em um tubo devidamente identificado.
  3. Em um segundo tubo (controle negativo) colocar uma gota do reagente de controle Rh;
  4. Acrescente uma gota da suspensão nos dois tubos (teste e controle).
  5. Homogeneize bem o conteúdo;
  6. Incube os tubos por 15 minutos à 37ºC;
  7. Lave as hemácias dos tubos 3 vezes (aprenda como lavar aqui);
  8. Adicione 2 gotas do reagente de antiglobulina humana para cada tubo. Homogeneize bem;
  9. Centrifugue por 15 segundos a 3400 rpm;
  10. Leitura: 
    1. a) agitar levemente o tubo; 
    2. b) observe se há aglutinação das hemácias; 
    3. c) faça a semi-quantificação do resultado (0, +, ++, +++).

Técnica em gel

  1. Prepare uma suspensão de hemácias a 1%:
    a) Centrifugue o tubo com a amostra para sedimentar as hemácias;
    b) 1000 µL da solução de diluição (consulte a marca do kit);
    c) 10 µL das hemácias concentradas por centrifugação;
  2. Pipete 50 µL da suspensão no microtubo do cartão específico para Coombs (consulte a marca do kit);
  3. Pipete 25 µL do soro anti-D no microtubo;
  4. Incube durante 15 minutos a 37ºC;
  5. Centrifugue de acordo com as recomendações da marca do kit;
  6. Realize a leitura e faça a semi-quantificação.

A maioria dos D fracos sorológicos são detectados quando mulheres grávidas, potenciais receptores de transfusão ou doadores de sangue possuem uma tipagem para RhD com fraca aglutinação (≤ 2+), usando reagentes anti-D potentes.



6. Interpretação dos resultados em laboratório clínico

  • Anti-D negativo e pesquisa de D fraco negativo = fator RhD negativo
  • Anti-D negativo e pesquisa de D fraco positiva = fator RhD positivo;

Lembrando que é necessário reportar os resultados dos dois testes que foram realizados, e não apenas colocar o resultado do teste confirmatório.

Em bancos de sangue a investigação deve ser mais detalhada, e dependerá se a pessoa será a doadora ou a receptora do concentrado de hemácias.

7. Referências

Daniels, G. (2013), Variants of RhD – current testing and clinical consequences. Br J Haematol, 161: 461-470. doi:10.1111/bjh.12275

Sandler SG, Chen LN, Flegel WA. Serological weak D phenotypes: a review and guidance for interpreting the RhD blood type using the RHD genotype. Br J Haematol. 2017;179(1):10–19. doi:10.1111/bjh.14757

Girello AL, Kuhn TIBB. Fundamentos da imuno-hematologia eritrocitária. 3ª Ed.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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