8 coisas que todo Biomédico deve saber sobre Coronavírus

Por Brunno Câmara - quarta-feira, janeiro 22, 2020

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.


1. Surto de Coronavírus na Ásia

No momento em que escrevo este post, 440 casos de infecção por um novo tipo de coronavírus e 9 mortes já foram confirmadas.

O surto começou em dezembro de 2019, em Wuhan, China, mas outros países asiáticos já confirmaram alguns casos e o vírus já chegou nos Estados Unidos.
A OMS apontou que as evidências são altamente sugestíveis de que a fonte foi um mercado de frutos do mar em Wuhan, onde também são vendidas aves (galinhas, patos, perus etc.) e carne de animais exóticos.

2. Novo tipo de Coronavírus

Os coronavírus (CoV) são uma grande família de vírus que causam doença, indo desde o resfriado comum até casos mais graves como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e a Síndrome Respiratória Grave Aguda (SARS-CoV).


Os CoVs são vírus envelopados, com simetria helicoidal, possuindo como material genético um RNA de fita simples sentido positivo.

Um novo tipo de coronavírus (nCoV) é uma estirpe que não foi previamente identificada em humanos.

Por enquanto, o coronavírus identificado nesse surto atual está sendo denominado 2019-nCoV.

3. Transmissão

Os CoVs são zoonóticos, ou seja, são transmitidos de animais para humanos.

Investigações encontraram que o SARS-CoV foi transmitido de gatos para humanos e o MERS-CoV transmitido de dromedários para humanos.

Porém, transmissão de pessoa para pessoa também ocorre (contato direto, fômites, gotículas e aerossóis).

A maioria dos CoVs são transmitidos para hospedeiros suscetíveis por meio das vias respiratórias ou pela rota fecal-oral. A replicação inicial ocorre nas células epiteliais.

4. CoVs Humanos

Até 2003, CoVs humanos (HCoV) eram considerados agentes etiológicos de doenças do trato respiratório superior e com baixa mortalidade.

São exemplos de HCoVs:

  • HCoV-229E;
  • HCoV-NL63;
  • HCoV-OC43.

Desses, HCoV-229E e HCoV-OC43 são responsáveis por cerca de 30% dos casos de infecção do trato respiratório superior.

Esses dois tipos de coronavírus também têm sido associados a pneumonia grave em neonatos e idosos, principalmente com doenças crônicas de base, como DPOC.

5. Características clínicas

Existem dois padrões de infecção em seres humanos: um para CoVs humanos (não SARS) e outro para CoVs zoonóticos (SARS-CoVs).

HCoVs

Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, mal-estar, calafrios, rinorreia, dor de garganta e tosse.

O pico da infecção chega em 3-4 dias e os sintomas duram cerca de 7 dias.

SARS-CoVs

Praticamente todos os casos de infecção por SARS-CoV resulta em doença do trato respiratório inferior (traqueia, pulmões, brônquios) que requer hospitalização, geralmente na UTI.

A gravidade da doença aumenta proporcionalmente com a idade do paciente.

A doença é caracterizada por sintomas sistêmicos, como febre, mal-estar e mialgias.

Sintomas do trato respiratório superior não são comuns (rinorreia, congestão nasal, dor de garganta).

A maioria dos pacientes apresentam gastroenterite (diarreia).

Os testes de função hepática ficam anormais em cerca de 70-90% dos casos.

No hemograma é encontrado linfopenia, neutrofilia e plaquetopenia.

6. Diagnóstico laboratorial

O padrão ouro para a detecção e identificação dos CoVs é a PCR em tempo real após transcrição reversa (RT-qPCR).

Os primers podem ser desenhados para serem abrangentes ou específico para determinada estirpe.

No site da OMS você encontra os protocolos de RT-PCR para detecção do 2019-nCoV.

Exames sorológicos também podem ser utilizados como fixação do complemento, inibição da hemaglutinação, neutralização, ensaios imunoenzimáticos e imunofluorescência.

7. Tratamento

Não há drogas antivirais para infecções causadas por CoVs, sendo a terapia apenas de suporte.

8. Prevenção

Não há vacinas disponíveis para prevenir infecções por HCoVs. Porém, existem algumas vacinas utilizadas para os CoVs veterinários.

Atualmente, a melhor forma de prevenção é minimizar o contato de pessoas infectadas com pessoas saudáveis, utilizando as medidas já conhecidas para prevenção de infecções virais respiratórias e gastroentéricas.

Referências

OMS - Coronavírus (who.int/health-topics/coronavirus)

Fields, Bernard N; Knipe, David M; Howley, Peter M. Fields virology. Philadelphia : Wolters Kluwer Health. 6th ed. 2013.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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