Tudo o que o Biomédico precisa saber sobre a Ferritina

Por Brunno Câmara - quinta-feira, abril 15, 2021

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A Ferritina é uma proteína intracelular que armazena e libera o ferro de maneira controlada.

Ela está presente na maioria dos organismos vivos, incluindo algas, plantas, bactérias e animais.

Estrutura da Ferritina

A ferritina é uma proteína globular (esférica / estrutura terciária). Seus aminoácidos hidrofóbicos localizam-se na parte interna, enquanto que os hidrofílicos ficam na parte externa da proteína. Por causa disso, ela é hidrossolúvel.

Com 474 kDa, a ferritina é composta por cadeias leves e pesadas, totalizando 24 subunidades.


A cadeia leve da ferritina atua como a reserva de ferro e remove o excesso de ferro do corpo.

A cadeia pesada da ferritina é uma enzima ferroxidase, ou seja, catalisa a oxidação de  Fe2+ em Fe3+.

Para não esquecer e não confundir:
Ferritina = apoferritina + ferro férrico
Fe2+ = Ferro ferroso
Fe3+ = Ferro férrico

Dentro da ferritina, os íons de ferro formam cristalitos ("grãos"), que são cristais microscópicos, juntamente com íons de fosfato e hidróxido.

Cada complexo de ferritina pode armazenar cerca de 4500 íons de ferro férrico (Fe3+).

Funções da Ferritina

Armazenamento de Ferro

O armazenamento de ferro é a principal função da ferritina, que ocorre de maneira não tóxica. 

O ferro livre é tóxico para as células, visto que atua na formação de radicais livres a partir de espécies reativas de oxigênio.

A apoferritina liga-se aos íons de ferro ferroso, armazenando-os no estado férrico.

Em condições basais, os níveis de ferritina sérica correlaciona-se com os estoques de ferro corporal.

Proteína de fase aguda

A ferritina também atua como uma proteína de fase aguda positiva, ou seja, seus níveis se elevam em quadros inflamatórios e infecciosos agudos.

Nesse caso, a função da ferritina é sequestrar os íons de ferro para impedir que micro-organismos utilizem-no.

Em infecções e malignidades, a concentração de ferritina se eleva para reduzir a quantidade de ferro livre disponível para células tumorais ou patógenos.

Curiosidade: alguns micro-organismos, como a Pseudomonas, produzem um fator de virulência chamado sideróforo, composto que quela o ferro facilitando sua importação para o interior do micro-organismo. Como consequência, os níveis de ferritina diminuem drasticamente.

Aspectos laboratoriais

A dosagem de ferritina sérica é um importante exame para avaliar os estoques de ferro do organismo.

Porém, é preciso ter cautela na interpretação de forma isolada, pois sua concentração pode estar aumentada por causa de uma reação inflamatória e não por excesso de ferro. 

Esse aumento pode mascarar uma possível deficiência de ferro. Por isso, é necessário avaliar seus resultados com outros testes como a dosagem de ferro sérico, transferrina e índice de saturação da transferrina (IST).

Os níveis de ferritina sérica variam de acordo com a idade e sexo do indivíduo.

Em adultos (quimioluminescência/Hermes Pardini):

  • Sexo feminino: 10 - 254 ng/mL;
  • Sexo masculino: 22 - 280 ng/mL.

Interpretação

Hipoferritinemia (ferritina sérica diminuída)

Níveis de ferritina sérica diminuídos indicam, na maior parte dos casos, uma deficiência de ferro.

Essa deficiência de ferro pode ser acompanhada ou não de anemia.

Quando há anemia por deficiência de ferro, a dosagem de ferritina é o parâmetro laboratorial mais específico para seu diagnóstico.

Porém, como mencionado anteriormente, é um teste menos sensível para o diagnóstico de anemia já que seus níveis podem aumentar em infecções/inflamações.

Outras causas podem ser: hipotireoidismo, deficiência de vitamina C e doença celíaca.

Hiperferritinemia (ferritina sérica amentada)

As duas principais causas de aumento nos níveis de ferritina sérica são: processo inflamatório agudo e sobrecarga de ferro.

Para diferenciar a causa, é necessário avaliar outros parâmetros em conjunto.

  • Ferritina elevada com ferro e IST também elevados pode indicar excesso de ferro no organismo.
  • Ferritina elevada com ferro e IST normais pode indicar um processo inflamatório. Avalie junto com a dosagem de Proteína C reativa.

A sobrecarga de ferro (hemocromatose) é caracterizada pelo acúmulo de ferro no organismo. As duas causas mais importantes são: hemocromatose hereditária e sobrecarga de ferro transfusional.

Os principais órgãos acometidos pela deposição de ferro são o fígado, o coração e as glândulas endócrinas.

Referências

Gulhar R, Ashraf MA, Jialal I. Physiology, Acute Phase Reactants. [Updated 2020 May 4]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. 

Laboratório Hermes Pardini.

Wang, Wei et al. “Serum ferritin: Past, present and future.” Biochimica et biophysica acta vol. 1800,8 (2010): 760-9. doi:10.1016/j.bbagen.2010.03.011

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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