Tudo o que o biomédico precisa saber sobre o Fibrinogênio
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O fibrinogênio (Fator I) é um complexo glicoproteico (cadeias polipeptídicas associadas), sintetizado no fígado.
Após um dano vascular, ele é convertido pela enzima trombina em fibrina, com a finalidade de formar um coágulo.
Além disso, o fibrinogênio é uma proteína de fase aguda positiva, ou seja, seus níveis plasmáticos aumentam numa resposta inflamatória sistêmica.
Estrutura do Fibrinogênio
O fibrinogênio é composto por dois trímeros proteicos (2x três cadeias polipeptídicas).
Cada trímero contém uma cadeia alfa (α), uma cadeia beta (β) e uma cadeia gama (γ).
No retículo endoplasmático, as cadeias são unidas por pontes dissulfeto ([α + β + γ] x2).
No complexo de Golgi, a molécula é glicosilada, hidroxilada, sulfatada e fosforilada para formar a sua forma madura que será liberada na circulação.
O fibrinogênio maduro é uma proteína longa e flexível com três nódulos.
Os dois nódulos terminais compõem os Domínios D, contendo as cadeias β e γ.
O nódulo central compõe o Domínio E, contendo as duas cadeias α.
Conversão de Fibrinogênio em Fibrina
A conversão de fibrinogênio monomérico em fibrina (Fator Ia) polimérica é mediada pela enzima trombina (Fator IIa).
A trombina liga-se ao Domínio E do fibrinogênio (central) e cliva dois pequenos peptídeos: fibrinopeptídeo A (FpA; 16 aminoácidos) e fibrinopeptídeo B (FpB; 14 aminoácidos).
Essa clivagem expõe os sítios A e B que interagem com as moléculas adjacentes para formar o polímero de fibrina solúvel.
Para estabilizar o polímero de fibrina, o Fator XIII ativado (pela trombina) liga os polímeros entre si, dando origem à fibrina reticulada insolúvel.
A polimerização ocorre de maneira espontânea e pode se alongar indefinidamente em qualquer direção. Por isso, quando a fibrina é gerada, ocorre ativação do sistema fibrinolítico, simultaneamente.
Dosagem de Fibrinogênio
Aplicações
O teste de fibrinogênio é usado para investigar anormalidades relacionadas à hemorragias ou coagulopatias, como por exemplo:
- Distúrbio hemorrágico
- Eventos trombóticos
- Suspeita de coagulação intravascular disseminada (CIVD)
- Alterações no TP, TTPA e Dímero-D
- Acompanhamento de condições crônicas, como hepatopatias
- Alterações quanti e qualitativas (congênitas e adquiridas)
Metodologias
Para a determinação do fibrinogênio é utilizado plasma colhido com citrato de sódio.
Ele pode ser dosado utilizando o princípio de Clauss (coagulométrico/função) ou a dosagem direta da proteína (antígeno) por imunoturbidimetria.
O método de Clauss baseia-se na habilidade que o fibrinogênio possui de formar fibrina após ser exposto a altas concentrações de trombina purificada.
O resultado do tempo (em segundos) que o plasma demorou para coagular é interpolado num gráfico de curva padrão, feita com diluições de um plasma referência.
Valores de referência
Em adultos, os valores ficam em torno de 200 e 400 mg/dL.
Em recém-nascidos, os valores variam de 125 a 300 mg/dL.
Níveis abaixo de 100 mg/dL são críticos.
Interpretação dos resultados
- Tipo I (quantitativa): afibrinogenemia e hipofibrinogenemia
- Tipo II (qualitativa): disfibrinogenemia e hipodisfibrinogenemia
Diminuição
- CIVD
- Doença hepática
- Deficiências congênitas:
- Hipofibrinogenemia
- Afibrinogenemia
- Disfibrinogenemia
- Hipodisfibrinogenemia
Aumento
- Aumento da idade
- Sexo feminino, gravidez, contracepção oral
- Pós menopausa
- Reação de fase aguda
- Neoplasia disseminada
Referências
Hsieh L, Nugent D. Factor XIII deficiency. Haemophilia. 2008;14(6):1190-1200. doi:10.1111/j.1365-2516.2008.01857.x
Schmitz, T., Bäuml, C. A., & Imhof, D. (2020). Inhibitors of blood coagulation factor XIII. Analytical biochemistry, 605, 113708. https://doi.org/10.1016/j.ab.2020.113708
Riedel, Tomas et al. “Fibrinopeptides A and B release in the process of surface fibrin formation.” Blood vol. 117,5 (2011): 1700-6. doi:10.1182/blood-2010-08-300301
Stang, L. J., & Mitchell, L. G. (2013). Fibrinogen. Methods in molecular biology (Clifton, N.J.), 992, 181–192. https://doi.org/10.1007/978-1-62703-339-8_14
Williams Hematology, 9ª edição.
Laboratório Hermes Pardini.