Hemácias cogumelos em pacientes com Covid-19

Por Brunno Câmara - segunda-feira, janeiro 18, 2021

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Uma alteração na morfologia dos eritrócitos, hemácias em formato de cogumelo, parece ter alguma associação com pacientes infectados pelo SARS‐CoV‐2.

As imagens foram publicadas, em janeiro de 2021, por profissionais do centro de hematologia de um hospital francês, na seção chamada de Images In Haematology do periódico British Journal of Haematology.

Ao observarem tal alteração em um paciente com Covid-19, eles fizeram um estudo de coorte retrospectivo, revisando mais 49 lâminas de outros pacientes com a mesma doença.

Na lâmina desse primeiro paciente, sexo masculino, 55 anos, admitido na UTI, foram observados: anisocitose leve, policromasia e infrequentes, mas bem evidentes, "hemácias cogumelos".

Essas hemácias em formato de cogumelo (ou peixe) são chamadas de células de Pincer

Elas são classificadas como um tipo de esquizócito, segundo o Conselho Internacional para Padronização em Hematologia (ICSH).

Leia mais: Alteração morfológica das hemácias

Resultado da investigação

Nenhum dos outros 49 pacientes (36 do sexo masculino) tinha histórico médico de algum distúrbio nos eritrócitos.

Em todos os 50 pacientes, foram observadas anormalidades eritrocíticas, principalmente anisocitose, esferócitos, estomatócitos e policromasia.

As "hemácias cogumelos" foram encontradas em 33 pacientes (66%).


Os autores especulam que a infecção tenha um impacto na fisiologia das hemácias, relacionado ao estresse oxidativo.

Um possível mecanismo, que explicaria seu aparecimento, seria a hemólise induzida por oxidação devido a remoção de corpúsculos de Heinz.

Minha conclusão

As células de Pincer são uma alteração descrita em pacientes com esferocitose hereditária associada com deficiência da proteína de membrana Banda-3.

O ICSH classifica essas células como um tipo (sinônimo) de esquizócito, que mesmo em pequenas quantidades tem importante significado clínico.

A recomendação dessa diretriz é que a presença de esquizócitos seja reportada no laudo, mesmo que seja 1+ (alguns/raros).

Sendo assim, a minha sugestão é que, se você observar hemácias com tal morfologia, relate no laudo. Independente da quantidade observada.

Porém, somente com esse relato de casos, ainda é muito cedo para fazer qualquer tipo de associação com a Covid-19. 

Mais estudos precisam ser feitos para avaliar a correlação entre a doença e essa alteração eritrocitária.

Referências

Gérard, D., Ben Brahim, S., Lesesve, J.F. and Perrin, J. (2021), Are mushroom‐shaped erythrocytes an indicator of COVID‐19?. Br J Haematol. https://doi.org/10.1111/bjh.17127

Palmer L, Briggs C, McFadden S, et al. ICSH recommendations for the standardization of nomenclature and grading of peripheral blood cell morphological features. Int J Lab Hematol. 2015;37(3):287-303. doi:10.1111/ijlh.12327

Lesesve, J.‐F. (2011), Mushroom‐shaped red blood cells in protein band‐3 deficiency. Am. J. Hematol., 86: 694-694. https://doi.org/10.1002/ajh.21962

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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