O que é um Teste Diagnóstico Padrão-Ouro

Por Brunno Câmara - quinta-feira, dezembro 14, 2023

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Um teste diagnóstico padrão-ouro é aquele considerado como referência para detecção e/ou quantificação de determinado analito.

É o teste usado como padrão para comparação de novos testes que foram desenvolvidos e, assim, obter sua validade clinico-diagnóstica.

Geralmente, o teste padrão-ouro é escolhido por ter a maior acurácia no diagnóstico de condições clínicas.

Um teste padrão-ouro hipoteticamente ideal seria um com especificidade clínica de 100% (identifica todos os não doentes) e sensibilidade clínica de 100% (identifica todos os doentes).

Porém, na prática, o teste perfeito não existe. Além disso, se o teste padrão-ouro tiver grande complexidade de aplicação clínica pode não ser muito utilizado na prática.

Para a detecção direta de muitos vírus, por exemplo, o teste padrão-ouro é o cultivo celular da amostra. Porém, na prática, isso fica restrito a cenários de pesquisa científica ou a laboratórios especializados como os LACENs (Laboratório Central de Saúde Pública).

Como novos métodos diagnósticos são desenvolvidos constantemente, o teste padrão-ouro para uma determinada condição clínica pode mudar ao longo do tempo.

Origem do termo padrão-ouro

O uso do termo padrão-ouro no contexto de medicina foi utilizado pela primeira vez na década de 70, em alusão ao padrão-ouro monetário.

O padrão-ouro monetário foi um sistema econômico em que o valor da moeda de um país estava diretamente vinculado a uma quantidade específica de ouro. 

Do mesmo modo que o padrão-ouro monetário permitia a comparação de diferentes moedas (Dólar, Libra, Euro etc.), o padrão-ouro de um teste diagnóstico permite a comparação de diferentes testes.

Exemplos de padrão-ouro

O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) é considerado o padrão-ouro para diagnosticar o diabetes mellitus.

Já a hemoglobina glicada (HbA1C) é considerada o padrão-ouro para o monitoramento do controle da glicemia em pacientes diabéticos.

Para a deficiência de ferro é considerada como padrão-ouro a determinação da hemossiderina na medula óssea. Porém, por precisar de um procedimento invasivo para obtenção da amostra, não é utilizado na prática rotineira. Sendo assim, a dosagem de ferritina sérica é o teste mais utilizado na triagem.

A quantificação da carga viral de HIV é usada como padrão-ouro no monitoramento da eficácia da terapia antirretroviral (TARV).

Na febre maculosa, o padrão-ouro para a sorologia é a imunofluorescência indireta. Já para o isolamento da Rickettsia rickettsii, o padrão-ouro é a cultura de sangue e tecidos.

A cultura para micobactéria é o padrão-ouro para o diagnóstico de tuberculose. Apesar disso, a baciloscopia é técnica mais utilizada no Brasil.

Conclusão

Então, podemos notar que o teste padrão-ouro nem sempre será o teste mais realizado na prática clínica. Muitas vezes, isso acontece por serem testes mais demorados, invasivos, complexos etc.

Além disso, em uma doença, mais de um teste pode ser considerado padrão-ouro, dependendo do objetivo (triagem, diagnóstico, tratamento, monitoramento etc.) e do procedimento (detecção de anticorpos ou antígenos, isolamento do agente etc.).

Uma das grandes utilidades dos testes padrão-ouro é servir como benchmark (padrão de referência) para outros testes diagnósticos de mesmo escopo.

Referências

Claassen J. A. (2005). Liever 'goudstandaard' dan 'gouden standaard' ['Gold standard', not 'golden standard']. Nederlands tijdschrift voor geneeskunde, 149(52), 2937.

Brasil. Ministério da Saúde. Febre maculosa : aspectos epidemiológicos, clínicos e ambientais. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022.160 p. : il.

Brasil.  Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos. – Brasília : Ministério da Saúde, 2018. 412 p. : il.

InfluentialPoints.com. Gold Standard Test. Acesso em 14/12/2023.

Wikipedia. Monetary Gold standard. Acesso em 14/12/2023.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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